sábado, 28 de agosto de 2010

“A moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”. Em: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud

Nesse texto Freud expõe a luta entre a civilização e a satisfação pulsional.
Na nota do Editor assinala que esse assunto já foi aludido por Freud na carta à Fliess de 31 de maio de 1897, na qual ele escreve que “o incesto é anti-social e a civilização consiste na renúncia progressiva ao mesmo” e nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, em que Freud diz que: “a realização inversa que existe entre a civilização e o livre desenvolvimento da sexualidade”.
Retoma os aspectos sociológicos que foram discutidos nesse texto de 1908 em artigos posteriores como “O futuro de uma ilusão” (1927), “Por que a guerra?” (1933) e em “O mal-estar na civilização” (1930).
No início do artigo Freud distingue moral sexual normal de moral sexual civilizada para dizer que a civilização, ou a cultura, estabelecer restrições para que seja possível a vida em sociedade, o que acarreta diversos prejuízos aos indivíduos. A principal delas é o aumento da doença nervosa moderna.
Freud destaca que a origem das neuroses, expressão da doença nervosa moderna, é a repressão sexual, logo, os sintomas neuróticos são uma satisfação substitutiva da pulsão sexual recalcada.
Freud (1908, p.175) diz que a internalização da moral civilizada se dá ao longo do desenvolvimento do indivíduo com o progressivo recalque da pulsão sexual. A satisfação sexual através do auto-erotismo na infância, obtenção de prazer através do próprio corpo, é recalcada para dar lugar a satisfação genital e ao amor objetal. A moral sexual ‘civilizada’ é alcançada quando a satisfação sexual com fins reprodutiva é eleita como objetivo sexual.
Segundo Freud os neuróticos possuem uma organização "recalcitrante", pois a supressão das pulsões é apenas aparente, ou seja, o que é recalcado retorna na forma de sintomas.Os sintomas são satisfações substitutivas da pulsão recalcada.
Freud analisa que a contínua repressão sexual pelas exigências da civilização aumentará os casos de neurose, como resistência, fuga das pressões.
Ele destaca os prejuízos ou mesmo as neuroses causadas pelas restrições sexuais impostas antes do casamento, em que os jovens que são submetidos a abstinência sexual, e mesmo após este, posto que a relação sexual é concedida aos casais com fins reprodutivos. Destaca principalmente as mulheres que incitadas a preservarem sua castidade e moral, não conseguem se envolver afetivamente e eroticamente nos relacionamentos amorosos.
A neurose é definida como o retorno dos desejos ou da pulsão sexual recalcada que são hostis a civilização. Freud dá o exemplo de uma mulher se casou sem amar o marido. No esforço de amá-lo, de acordo com o ideal civilizatório, ela recalca todas suas idéias e sentimentos que vão contra ele. Mas como efeito disso surge uma doença nervosa, neurótica que lhe causa enormes prejuízos.
E, por fim, destaca que a restrição da atividade sexual causa um aumento do medo da morte e da angústia em existir. E pergunta se todo sacrifício de abrir mão da felicidade individual em prol da moral civilizada de uma comunidade vale a pena diante de tantos prejuízos causados?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Crack: Apocalipse químico

Retirado do site da ABEAD
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas

O Crack têm se disseminado rapidamente. Essa droga é sete vezes mais potente que a
cocaína e também mais cruel e mortífera. O usuário chega a viciar no primeiro uso.

Desafeiçoado. Escondido pelo escuro da noite e feliz pela ilusão da droga. É tarde, e cada esquina vira boca de fumo. O crack tomou conta. Não se tem acepção de idades. São milhares de crianças, jovens e adultos encolhidos em qualquer canto, iluminados apenas por um palito de fósforo aceso. “A gente pensa que aqui quase não tem viciados em crack. Aí é que a gente se engana. Tem crianças usando crack até na escola.” Relata Jordão Vittor, 26, morador do bairro Santa Lúzia.
O crack é a mistura de cocaína refinada com bicarbonato de sódio que resulta em grãos que são fumados em cachimbos ou latas. Seu efeito pode ser de cinco a sete vezes mais potentes que a cocaína, entretanto, também é mais cruel e mortífero. Durante 10 minutos, no máximo, o usuário sente uma sensação eufórica e excitante, seguido de depressão, delírio e a necessidade de repetição da dose, quase instantaneamente.
P. tem somente 17 anos e já é viciado há dois, atualmente, usa cerca de 60 pedras de crack por dia. Todo sujo, usa dialetos, fala alto e olha de lado, mas não é agressivo, apesar de estar sob efeito da droga.
Ele é tão novo e já sem esperanças, sem expectativa de vida, sem rumo. “Eu fico bem quando uso. Depois percebo que não tenho vida, aí fumo de novo. Se eu morrer agora, vou morrer feliz”.
Em um passado bem recente, somente pessoas desprovidas de dinheiro é que eram dependentes do crack, já que é uma droga barata, custando de 5 a 10 reais a pedra. Hoje, esse perfil mudou. Agora as classes média e alta também são escravos do crack. “Antes era só na favela, hoje você vê os ‘playboys’ comprando a pedra”, alerta P.
Segundo o psiquiatra especialista em dependência e saúde mental Paulo Soares Gontijo o crescimento exagerado do consumo se deve ao fato do custo ser baixo e da mobilidade do tráfico. “Quanto mais barato, maior o consumo. Quanto mais consumo, maior a procura por tratamento”, explica.
Apesar de ser um valor relativamente baixo, o viciado começa a vender seus pertences, fazer trocas e até furtos já que existe um interesse compulsivo em usar outras pedras. “Tem pessoas que vende até o telhado da casa para comprar droga”, diz P.
Quando não há mais esperanças de uma vida melhor, os jovens buscam no efeito momentâneo do crack, um motivo para sorrir. “A meu ver isso acontece devido à falta de oportunidade, a falta de possibilidade de que um dia a vida possa melhorar, e se essa pessoa não tiver uma vida com estrutura familiar e social bastante firme, o que acontecerá é que ela logo cairá nessa armadilha chamada crack”, disse o Delegado Regional de Barreiras Dr. Jorge Aragão ao jornal Novo Oeste.
Em Barreiras, no Oeste da Bahia, o uso do crack não está tão disseminado quanto na capital baiana, Salvador, onde o consumo aumentou 140%. Em Brasília (DF) com aumento de apreensão de pedras de crack em 175% em apenas um ano; e Goiânia (GO), onde existem 50 mil usuários, cerca de 4% da população.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Relatório Mundial sobre Drogas 2010 revela tendências de novas drogas e de novos mercados

O Relatório Mundial sobre Drogas 2010, divulgado nesta quarta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostra que o consumo de drogas está se deslocando em direção a tendências de novas drogas e de novos mercados. O cultivo de drogas está diminuindo no Afeganistão (ópio) e nos países andinos (coca), e o consumo de drogas tem se estabilizado nos países desenvolvidos. Entretanto, há sinais de aumento no consumo de drogas nos países em desenvolvimento, além de um aumento no consumo de substâncias do tipo anfetamina (ATS, na sigla em inglês) e no abuso de medicamentos sob prescrição em todo o mundo.

Redução do cultivo de ópio e de coca
O Relatório mostra que a oferta mundial dos dois tipos de drogas mais problemáticos - opiáceos e cocaína - continua em declínio. A área global de cultivo de ópio caiu quase um quarto (23%) nos últimos dois anos, e a produção de ópio deve cair drasticamente em 2010, devido a uma praga que pode destruir até um quarto da papoula do Afeganistão. O cultivo de coca, que diminuiu 28% na última década, manteve a tendência de queda em 2009. A produção mundial de cocaína diminuiu de entre 12% e 18% no período de 2007 a 2009.

O mercado de cocaína está mudando
O Relatório Mundial sobre Drogas 2010 revela que o consumo de cocaína tem diminuído significativamente nos Estados Unidos, nos últimos anos. O valor de varejo no mercado de cocaína nos Estados Unidos diminuiu cerca de dois terços na década de 1990, e cerca de um quarto na década passada. "Um dos motivos para a violência associada às drogas no México é que os carteis estão lutando por um mercado que está diminuindo", disse o Diretor Executivo do UNODC, Antonio Maria Costa. "Essa disputa interna é benéfica para a América, pois a escassez de cocaína está resultando em menores índices de dependência, preços mais elevados e menor pureza nas doses".
De certa forma, o problema atravessou o Atlântico: na última década, o número de usuários de cocaína na Europa duplicou, passando de 2 milhões, em 1998, para 4,1 milhões em 2008. Em 2008, o mercado europeu (estimado em US$ 34 bilhões) chegou a ser quase tão valioso quanto o mercado norte-americano (US$ 37 bilhões). A mudança na demanda acarretou uma mudança nas rotas de tráfico, com uma quantidade crescente de cocaína sendo traficada dos países andinos para a Europa, via África Ocidental. Isso está causando instabilidade na região. "Pessoas que consomem cocaína na Europa estão destruindo florestas nativas dos países andinos e corrompendo governos na África Ocidental", disse Costa.

Tratamento para dependentes é insuficiente
O Relatório Mundial sobre Drogas 2010 expõe uma grave falta de serviços de tratamento para usuários de drogas em todo o mundo. "Enquanto pessoas de países ricos podem pagar pelo tratamento, pessoas pobres e/ou países pobres estão enfrentando as piores consequências à saúde", alertou o chefe do UNODC. O relatório estima que, em 2008, apenas cerca de um quinto dos usuários de drogas dependentes receberam tratamento no ano passado - o que significa cerca de 20 milhões de pessoas dependentes de drogas sem receber tratamento adequado. "Já está na hora de haver acesso universal ao tratamento para as drogas", disse Costa.
Ele considera que a saúde é a peça-chave no controle de drogas. "A dependência é um problema de saúde tratável, não uma sentença morte. Os dependentes de drogas devem ser encaminhados para tratamento, não para a prisão. E o tratamento da dependência de drogas deve fazer parte dos serviços de saúde em geral".
Ele também fez um apelo por um maior respeito pelos direitos humanos. "Só porque as pessoas usam drogas ou estão atrás das grades, isso não elimina seus direitos. Faço um apelo aos países onde as pessoas são executadas por crimes relacionados com drogas, ou pior, são mortos a tiros por grupos de extermínio, para acabar com essas práticas".

Sinais de alerta nos países em desenvolvimento
Costa destacou os perigos do uso de drogas nos países em desenvolvimento. "As forças do mercado já moldaram as dimensões assimétricas da economia da droga: os maiores consumidores de drogas (os países ricos) impuseram aos países pobres (os principais locais de abastecimento e de tráfico) os maiores danos", disse Costa. "Os países pobres não estão em condições de absorver as consequências do aumento do consumo de drogas. Os países em desenvolvimento enfrentam uma crise iminente que poderá levar milhões de pessoas para o problema da dependência de drogas".
Ele citou como exemplos o crescimento do consumo de heroína na África Oriental, o aumento do uso de cocaína na África Ocidental e na América do Sul e o aumento na produção e no abuso de drogas sintéticas no Oriente Médio e no Sudeste Asiático. "Nós não vamos resolver o problema mundial da droga deslocando o consumo dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento", disse Costa.