quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pontuações sobre o texto "A psicanálise verdadeira e a falsa", de Lacan (1958)





"A transferência é o vínculo com o Outro estabelecido pela forma de demanda a que a psicanálise dá lugar"







Esse artigo de Lacan é muito atual, na medida em que nos retorna acerca da prática lacaniana no nosso século.
Lacan assinala, que para distinguirmos a psicanálise verdadeira da falsa é preciso avaliarmos seu fundamento. A psicanálise autêntica é aquela que se baseia na relação do sujeito com a fala. E é Freud quem primeiro evidencia esse relação em "A interpretação dos sonhos", "Psicopatologia da vida cotidiana" e "Os chistes", em que a causalidade psíquica, mas nem tanto psíquica e sim lógica, é determinada pelo inconsciente.
"Toda a promoção da intersubjetividade na personalogia humana, portanto, só pode articular-se a partir da instituição de um Outro como lugar da fala. Essa é a 'outra cena', em que Freud, designa desde a origem o palco regido pela maquinária do inconsciente".
É através da formações do inconsciente - ato falho, lapsos, sonhos - que se satisfaz uma parcela do desejo. Entre a demanda e a satisfação que surge essa condição quase perversa que é em sua forma abasoluta o desejo. O desejo não aparece na fala, se satisfaz onde ele pode, onde não sofre os efeitos da censura realizada pela consciência. Mas porque o desejo é articulável na linguagem é que o psicanalista pode reconhecê-lo e assim fazer com que ali, onde o eu era, o isso possa advir, ou seja, "É no lugar do Outro que o sujeito se encontrará".
Lacan encerra o texto marcando que a resistência à psicanálise já não se encontra tanto nos leigos, mas sim entre nós, psicanalista, e por isso devemos repensar a psicanálise e restabelecer nossa missão:
"Não há dúvida que a confiança privilegiada na fala é o princípio de verdade pelo qual a psicanálise subsiste, a despeito da imbecilidade dos ideais com que ela o tempera".

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O principal motivo das crianças irem para as ruas é a negligência e o abandono familiar



Droga leva só 12% das crianças à cracolândia

O Estado de São Paulo

Apenas 12,4% das crianças e adolescentes que deixaram suas casas para viver nas ruas do centro da cidade tomaram a decisão motivados por uso de drogas. A negligência e o abandono da família são os principais motivos da ida para a rua (37,3%), seguidos pelas violências familiar (18,3%) e sexual (15,7%).

Os dados tomam por base 209 entrevistas feitas entre junho do ano passado e junho deste ano com crianças e adolescentes que passaram pelo espaço de convivência da região da República, que engloba o perímetro da cracolândia. O trabalho é coordenado pelo Projeto Quixote, organização social ligada à Universidade Federal de São Paulo que presta serviço à Prefeitura.



Não souberam explicar as razões para a ida para as ruas 56 entrevistados. "Esses dados mostram que concentrar a discussão na questão da internação e do crack é um enfoque simplista", afirma o psiquiatra Auro Lesher, coordenador do Quixote. "Não se deve "medicalizar" uma questão social. Depois de sair da clínica, se a criança encontrar a mesma realidade em casa, do que vai adiantar?"

Apesar de irem para as ruas por causa de problemas familiares, muitas crianças e adolescentes passam a usar tipos variados de drogas depois que ingressam na nova rotina. É o que constatam os educadores do Quixote e a Pesquisa Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que em março mostrou que 38,6% dos entrevistados não dormiam em abrigos por causa da proibição do uso de álcool e drogas.

Luta. Na tarde de ontem, na sede do Projeto Quixote, na Vila Mariana, zona sul da capital, o Estado encontrou Davi, de 12 anos, e Tamara, de 17, que até hoje lutam para seguir uma vida mais estável após morar na rua. Davi acaba de voltar de um mês de internação contra a sua vontade, a pedido da mãe. Disse que não queria falar sobre o assunto. Ele foi o filho temporão de uma família com três irmãos. Desde os 6 anos, Davi foge de casa. Aos 11, já morava na rua, onde passou a usar drogas.

No caso de Tamara, ela foi levada à rua pela mãe, que era dependente de crack. Morava na cracolândia com dois irmãos mais novos e viu a mãe engravidar de gêmeos. Aos 12 anos, já usava crack, como a mãe. Depois que deu à luz, o Projeto Quixote conseguiu que a mãe de Tamara se comprometesse a deixar a rua. Ela ficou por um ano em uma clínica terapêutica. Os filhos foram para abrigos e passaram a morar todos juntos quando a mãe saiu da internação.

A situação piorou quando a mãe voltou inesperadamente a engravidar. Ela retornou para as ruas aos poucos. Tamara, contudo, aos 17 anos, mora em um abrigo e segue firme na tentativa de ter um futuro sem tantos problemas. Seus quatro irmãos foram adotados. Algumas vezes, ela conseguiu resgatar a mãe e trazê-la de volta aos tratamentos.

"O importante nesses casos é que o crack não é o principal empecilho para trabalhar com as crianças. Estabelecer relação de confiança com essas pessoas e reestruturar a vida fora da rua é fundamental para que o tratamento funcione", diz o psicólogo Bruno Rocha.