sexta-feira, 17 de junho de 2011

Internação compulsória de crianças e jovens por crack divide opiniões no RJ

G1

Detidos só são liberados quando são considerados livres do vício.


Desde uma resolução da prefeitura, no final de maio, que obriga crianças e adolescentes detidos nas cracolândias a ficar internados para tratamento médico, mesmo contra a vontade deles ou dos familiares, o Rio vive uma polêmica em relação ao combate ao crack. A internação obrigatória divide opiniões.
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), os jovens só são liberados quando agentes os considerarem livres do vício. Segundo a prefeitura, a internação compulsória, como é chamada, não desrespeita o Estatuto da Criança e do Adolescente nem a Constituição.
O centro de acolhimento "Casa Viva" é um dos locais da prefeitura para tratar dependentes químicos. Mais de 30 funcionários estão envolvidos na recuperação de adolescentes viciados, que atualmente são oito. Além de receberem as refeições do dia, eles participam de brincadeiras e recebem atendimento médico e psicológico.
No dia 25 de maio, após a publicação da prefeitura, a secretaria fez a primeira operação conjunta com a PM, na Favela do Jacarezinho, no Jacaré, no subúrbio do Rio, de combate ao crack.
Após diversas operações realizadas no Rio, 760 pessoas foram recolhidas, sendo que 169 delas eram crianças. A informação é da secretaria.
Desde o dia 31 de março, as polícias civil e militar fizeram 10 operações para retirada de usuários de crack das ruas. A maioria, na Favela do Jacarezinho; outras três também no subúrbio; duas no Centro e uma na Zona Sul da cidade.

Contudo, a aplicação da internação compulsório para os usuários de drogas ainda é uma novidade e deve ser discutida entre os diversos profissionais envolvidos no encaminhamento e no tratamento, exigindo um trabalho transdisciplinar, pois não se trata somente de retirá-los da rua, mas resgatar sua auto-estima, subjetividade e resgatar os laços familiares destas crianças e adolescentes.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Judith Miller: 'Cada um de nós tem seu grão de loucura'

No mundo de hoje, em que a indústria farmacêutica vende antidepressivos como bombons e proliferam métodos prometendo “cura” rápida dos problemas, Judith Miller — filha de Jacques Lacan, psicanalista francês de maior influência do século XX — parte numa espécie de cruzada contra a ideia de que se pode (ou deve) apagar o “grão” de loucura que existe em cada ser humano para adaptá-lo às exigências da sociedade de consumo e produção.

Em entrevista ao GLOBO, Judith critica duramente as chamadas terapias cognitivo-comportamentais (TCC) que, segundo ela, buscam isso: “normalizar” e adaptar o comportamento das pessoas, prometendo a “felicidade”. O que bate de frente, explica, com um dos preceitos da psicanálise.

— Cada um de nós tem seu pequeno grão de loucura. Lacan anunciou no seu seminário: “todo mundo é louco”. É este grão de loucura que faz com que cada um de nós tenhamos um modo próprio de ser, de abordar as coisas, de reagir. A socialização não pode evitar isso — sustenta ela.

Judith, que não é psicanalista (é filósofa) e preside a Fundação do Campo Freudiano, desembarca no Brasil na próxima semana para participar do V Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana (V Enapol) e do XVII Encontro Internacional do Campo Freudiano, que acontece dias 11 e 12 sob o tema “A saúde para todos, não sem a loucura de cada um”. Dia 9 ela estará na abertura da mostra “Às vezes, a arte”, com obras de artistas do Campo Freudiano, na Galeria Antonio Berni, em Copacabana.

Antes, no dia 8, ela participará de uma palestra na livraria Travessa do Leblon sobre o lançamento do livro “Perspectivas dos ‘Escritos’ e dos ‘Outros escritos’ de Jacques Lacan” (Zahar Editora), ao lado da editora Cristina Zahar, do psicanalista argentino Leonardo Gorostiza e Angelina Harari, assessora da coleção Campo Freudiano no Brasil. O autor do livro é o psicanalista Jacques-Alain Miller, marido de Judith e designado pelo próprio Lacan como herdeiro intelectual de sua obra e ideias. Miller reúne no livro extratos de suas aulas na Universidade de Paris VIII, de 2008 a 2009, nas quais ele defende um retorno à obra de Lacan e à “psicanálise pura”.

Judith diz que a importância desta obra é que Miller transcreve as aulas sobre Lacan num momento em que “achou necessário relembrar aos analistas lacanianos que a psicanálise aplicada, do lado terapêutico, não representa toda a psicanálise”. Miller acusa os chamados terapeutas comportamentais de tratarem as pessoas como “uma força de trabalho”. E quem não se adapta à norma acaba reduzida à categoria de “perigosa para o capitalismo”.

— Uma pessoa não pode ser reduzida a um consumidor/produtor! — revolta-se.

A psicanálise, explica a filha de Lacan, trabalha no sentido oposto: do reconhecimento e aceitação da singularidade de cada pessoa.

— Lacan inventou um dispositivo em psicanálise chamado “la passe”, através do qual se verifica que, no final de uma análise, a pessoa analisada sabe discernir qual a sua diferença absoluta em relação às outras pessoas. Ou seja: ele vai saber viver com esta diferença em sociedade — diz Judith.

A filósofa ataca também as indústrias farmacêuticas e a Organização Mundial de Saúde (OMS), por associarem saúde mental à “felicidade de todos”. A “depressão” de hoje, diz, é sobretudo “uma questão comercial”:
— Querem vender antidepressivos que colocam as pessoas num estado eufórico, quando não há razão de estar eufórico.

Aos que acreditam em “terapias rápidas que visam erradicar logo os sintomas”, Judith Miller responde com uma frase do pai da psicanálise, Sigmund Freud: sintomas rechaçados pela janela voltam pela porta. A psicanálise, diz Judith, “não promete a felicidade, mas assegura um desejo de viver esclarecido”. Aos que apelam para antidepressivos, terapias curtas e comportamentais para lidar com o sofrimento, Judith alerta:

— Cedo ou tarde, as pessoas que sofrem acham a porta aberta para fazer psicanálise.

Judith também disse que levará para o Rio de Janeiro um documentário que a chocou profundamente. Em nome do combate à delinquência, o governo francês estaria usando métodos de terapia comportamental para testar níveis de violência nas crianças — uma experiência que ela classifica de “chocante, desumana”. O documentário mostra como crianças são submetidas a um jogo truncado, no qual não há chance de ganhar. É um teste para ver como reagem diante do fracasso.
— O que fazem com as crianças é um horror! Colocam-nas numa situação que enlouqueceria qualquer ser constituído, tudo isso em nome do combate à delinquência — conta Judith.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

CONVOCATÓRIA PARA O I CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE PSICANÁLISE NA UNIVERSIDADE E VII SIMPÓSIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICANÁLISE DA UERJ

Desde as primeiras recomendações favoráveis de Freud num artigo de 1919 - escrito no contexto em que os estudantes de Medicina da Hungria reivindicavam a sua inclusão no currículo médico e significativamente intitulado “Deve a Psicanálise ser ensinada nas universidades?” –, até a criação em 1969, por Serge Leclaire, sob os auspícios de Jacques Lacan, de um Departamento de Psicanálise na Universidade de Vincennes Paris-VIII, a inserção da Psicanálise na Universidade foi se ampliando. Em toda América Latina, atualmente, isso é um fato: a Psicanálise faz parte integrante, não só dos cursos de Graduação em Psicologia, como de muitos programas de diferentes cursos universitários.

Como essa inserção tornou-se cada vez mais importante, foram sendo criados no Brasil Programas de Pós-Graduação na área específica da Psicanálise – como o pioneiro Programa de Teoria Psicanalítica da UFRJ, fundado pelo Prof. Dr. Luiz Alfredo Garcia-Roza, e o nosso Programa de Pesquisa e Clínica em Psicanálise da UERJ –, além de ser teoria de destaque em linhas de pesquisa nos Programas de Psicologia de várias Universidades brasileiras. Nas Universidades da América Latina não é diferente. Há um grande número de Programas de Pós-graduação que incluem a Psicanálise como disciplina ou que fazem dela seu carro-chefe. Em vários encontros que tivemos com professores de outros países, estabelecemos laços de pesquisa e trocas teóricas. Em 2009, tivemos o prazer e a honra de contar com a presença na UERJ, no simpósio de comemoração dos dez anos do nosso Programa, da psicanalista e escritora Diana Rabinovich, professora da Universidade de Buenos Aires. Nessa ocasião, concluímos sobre a necessidade de um encontro dos psicanalistas que ensinam nas universidades latino-americanas e nos propusemos a realizá-lo. Nossa intenção é dar partida a uma sucessão de congressos que discutam a inserção da Psicanálise nas universidades, estreitando laços de pesquisa e produção de conhecimento.

O primeiro público que almejamos convocar corresponde aos psicanalistas e professores das Universidades, brasileiras e latino-americanas, pertencentes a Programas de Pós-graduação, e seus alunos. Interessa-nos, sobretudo, a possibilidade de favorecer o intercâmbio entre os nossos colegas e alunos, da graduação ao doutorado. O evento também pretende atingir todos aqueles que se interessam pelos destinos da Psicanálise como produto da cultura e se dirige à pluralidade dos saberes universitários, com os quais a Psicanálise mantém tradicionalmente um fecundo e rico diálogo. Além desses, convidamos os psicanalistas das diferentes escolas de formação em Psicanálise a compartilharem conosco seus trabalhos.

Como não poderíamos deixar de prestar nossa homenagem, o I CONLAPSA terá como Presidente de Honra Diana Rabinovich, figura da máxima importância em nosso campo, tendo sido uma das pioneiras na introdução do ensino lacaniano na América do Sul. Foi Diana quem convidou Lacan para vir a Venezuela, em julho de 1980, e ali ministrar o seminário que ficaria conhecido como o “seminário de Caracas”.

A escolha do tema “A clínica do mal-estar” para nosso I CONLAPSA se deve à amplitude de discussões que ele abre, traduzindo a possibilidade de se refletir psicanaliticamente sobre os impasses da clínica e da cultura, avançando nos processos de elaboração teórica. Sugerimos sub-temas para os quais os participantes poderão dirigir seus trabalhos; através deles, pretendemos abranger problemáticas atuais que solicitam da Psicanálise sua contribuição. São eles:
1. A naturalização do sujeito e o estatuto do desejo hoje.
2. Incidências da internet na erótica.
3. Novas formas das funções paterna e materna e da conjugalidade.
4. Existem novos sintomas e patologias?
5. Dimensões clínicas da imagem do corpo.
6. O gozo do consumo: adições.
7. A clínica do trauma, sua mediação e sua mídia.
8. Que lugar para a criança e o adolescente no século XXI?
9. Versões da sexualidade hoje.
10. Ensino e clínica da psicanálise.
11. Haveria novas recomendações aos que exercem a psicanálise?

Temos a infra-estrutura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde reservamos dois auditórios para os três dias do evento, além do Teatro Odylo Costa Filho, que comporta mais de 1000 pessoas, reservado para as solenidades de abertura – que contará com a presença do Reitor e de autoridades –, e de encerramento, quando procederemos a uma avaliação e lançaremos a proposta para o II Congresso, a se realizar em outro país.

Desejamos que o evento aproxime os pesquisadores, assim como todos aqueles que difundem o edifício conceitual da Psicanálise nas Universidades Latino-americanas, promovendo interseções preciosas para a promoção do conhecimento, com a participação da Rede de Psicanálise e dos Grupos de Trabalho da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Psicologia - ANPEPP que têm na Psicanálise seu eixo central de pesquisa. Esperamos que o resultado desse evento seja não só sua continuidade com um II CONLAPSA, em outro país-sede, como também a possível fundação de uma ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE PSICANÁLISE NA UNIVERSIDADE.

Contamos com sua presença, sua participação e seu trabalho para o pleno sucesso de nosso evento!

Marco Antonio Coutinho Jorge e Rita Maria Manso de Barros Organizadores do I CONLAPSA