terça-feira, 25 de junho de 2013

Sobre a questão da "cura" gay

Compartilho aqui uma postagem do facebook da psicanalista Leda Guimarães sobre a questão da patologização da homossexualidade diante da recente aprovação, pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da proposta que suspende trechos da Resolução CFP nº 001/1999, que veta práticas de patologização da homossexualidade e é considerada um importante marco para a Psicologia e a sociedade brasileiras.
 
A psicanalista cita uma carta de Freud à mãe de um adolescente homossexual em 1936:

"Prezada Senhora,
Deduzo de sua carta que seu filho é homossexual. Estou especialmente impressionado com o fato da senhora não ter mencionado este termo no seu relato sobre seu filho. Posso perguntar-lhe porque o evitou? A homossexualidade seguramente não é uma vantagem ,...
mas não é nada vergonhoso, não é um vício, não é uma degradação, não pode ser classificada como uma doença; nós a consideramos uma variação da função sexual produzida por um certo bloqueio no desenvolvimento sexual.
Muitos indivíduos altamente respeitáveis na antiguidade e também nos dias de hoje, foram homossexuais, muitos homens notáveis de sua época (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci). É uma grande injustiça e crueldade a perseguição da homossexualidade como um crime. Se você não acredita em mim, leia os livros de Hamelock Ellis.Ao perguntar-me se eu poderia ajudar, suponho que você quer saber se posso abolir a homossexualidade e colocar a heterossexualidade normal em seu lugar. A resposta é que, de uma maneira geral, não podemos prometer conseguir isto. Em certos casos temos sucesso em desenvolver as incipientes tendências heterossexuais que estão presentes em todos os homossexuais, mas na maior parte dos casos isto não é mais possível. Depende das características e idade do indivíduo. O resultado do tratamento não pode ser previsto.
O que a análise pode fazer por seu filho segue em outra direção. Se ele é infeliz, neurótico, torturado por conflitos, inibido em sua vida social, a análise pode lhe trazer harmonia, paz de espírito, completo desenvolvimento de suas potencialidade, continue ou não homossexual.
Se você decidir que ele deve fazer análise comigo - e eu não espero que isto aconteça - ele deverá vir a Viena. Não tenho intenção de mudar-me. De qualquer forma, não deixe de me responder,
Sinceramente,
Desejo-lhe boa sorte,
Freud"

Nesse ponto a psicanálise e a psicologia compartilham da mesma posição que orienta a direção de tratamento: que a homossexualidade não constitui patologia, distúrbio ou perversão, não havendo, portanto, uma cura para ela. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O sintoma na teoria Freudiana


Freud defendia que os sintomas neuróticos podiam ser decifrados, na medida em que tinham um sentido, da mesma forma que os atos falhos e os sonhos. O sintoma no sentido analítico, ou em sua significação clássica, quer dizer aquilo que é analisável na neurose. A possibilidade de interpretação advém do sintoma como portador de uma mensagem velada. Freud desenvolve o conceito de sintoma enquanto uma formação do inconsciente, nos textos “A interpretação dos sonhos” (1900-1901), “A psicopatologia da vida cotidiana” (1901) e “Os chistes e sua relação com o inconsciente” (1905).

Em “A interpretação dos sonhos”, ele substitui a proposição neurofisiológica para explicar os processos mentais pela psicológica e introduz uma primeira formulação do conceito de inconsciente. Em seus estudos sobre a histeria ele percebe a existência de diferenças entre a paralisia motora e a paralisia histérica, e chega à conclusão de que a idéia é que paralisa o indivíduo e não um feixe de neurônios. A causa da paralisia histérica não podia ser explicada em termos da consciência ou em termos orgânicos, mas pela existência do inconsciente. Desta forma, Freud (1900-1901, p. 633) afirma que apesar do sonho não ser patológico, os processos que atuam em sua formação são análogos aos que atuam na formação dos sintomas histéricos, ou seja, ambos denotam uma formação do inconsciente.

Freud assinala que durante a vigília, o consciente domina os processos de funcionamento do aparelho psíquico através do princípio de realidade, impedindo que conteúdos inconscientes se manifestem. Contudo, como o representante-representação não pode se manifestar diretamente no consciente – devido à incompatibilidade com o sistema consciente– ele se manifesta de forma substitutiva, modificada, sofrendo condensações e deslocamentos, através de sonhos, lapsos e sintomas.

Os sintomas são, portanto, derivados do conteúdo recalcado que tiveram acesso à consciência, são manifestações do inconsciente que revelam a verdade encoberta pelo recalque. O recalque é uma repressão tão forte da sexualidade que cria obstáculos para que o sujeito a exerça livremente: “as excitações continuam a ser produzidas como antes, mas são impedidas por um obstáculo psíquico de atingir seu alvo e empurrada para muitos outros caminhos, até que consigam se expressar como sintomas” (Freud, 1905, p. 224) .