terça-feira, 5 de novembro de 2013

VI Enapol - Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana


 
Diana Wolodarsky – EOL (Bs. As.)
VI Enapol – 22 e 23 de Novembro – Buenos Aires.
 
Por que aos psicanalistas nos interessa elucidar uma questão como a do corpo?
Que enigma oculta?
 
Lacan em seu último ensino sublinha que o sujeito não é só significante, e para dar conta disso recorre ao termo parlêtre (falasser). Não vou me estender neste ponto, pois já foi suficientemente abordado nos envios anteriores.
Se algo distingue a psicanálise de orientação lacaniana, é o fato de não generalizar o tratamento do corpo. Considera de suma importância tomá-lo um por um, em sua singularidade. Singularidade que estará dada pelo modo particular como uma palavra ou frase bateu em cada corpo fazendo desse imprevisível encontro, acontecimento. Essa contingência que se torna acontecimento deixa uma marca, investida libidinalmente, inscrita numa gramática fantasmática na qual a intervenção analítica se orientará a fim de desmontá-la para voltar a articulá-la de um modo inédito para o sujeito. O inédito oposto ao destino: programa de gozo.
Desmontar o circuito pulsional que se organizou em torno de um objeto, o qual veio a localizar-se ali onde o vazio é testemunho de que não há objeto que o colme.
 
Ter um corpo, diz Lacan, é diferente de sê-lo. Se o sujeito é o que representa um significante para outro significante, como nos apropriamos do corpo? O que é que faz borda ou contorno, relevo?
Que o inconsciente seja homólogo aos orifícios do corpo, dá conta desse movimento estrutural no qual se constitui ofalasser. Que a linguagem seja o artificio do qual nos servimos para dar conta da maneira como temos um corpo. E que é em torno dos orifícios do mesmo que se constitui o modo de gozo de cada sujeito. Y nos diz também que às vezes esses orifícios não são suficientes para constituir um corpo, a partir do qual há sujeitos que necessitam perfurar-se com insistência. Como se cada novo buraco prometesse algo de uma articulação que fracassa.
Comprovamos que às vezes a subjetividade é suficiente para fazer com que um sintoma ressoe nele. Algumas, assistimos a verdadeiras performances bizarras que dão conta das piruetas para armar um semblante: piercing, tatuagens, cortes, deformações, infiltrações. Outras, das consequências do fracasso por não conseguir armá-lo ou sustenta-lo.
Inibição, sintoma ou angustia são manifestações das dificuldades que implica o fato de ter um corpo. Distorções especulares, transformações substanciais, mutilações ou perfurações são algumas das formas como se apresentam cada vez mais os corpos, naturalizando-se estas práticas numa suposta justificativa estética.
Se para o organismo a saúde é o silêncio dos órgãos, falar com o corpo é a pulsão que se fará um espaço a fim de se fazer ouvir.

Tradução: Pablo Sauce