sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
No próximo ano, teremos o imenso prazer de receber, aqui no Rio, colegas de diversos países e avançarmos juntos no tema do V Encontro Americano. Com muito entusiasmo, as Comissões têm se reunido há bastante tempo para que tudo esteja organizado e possamos desfrutar de mais este momento de trabalho.
As inscrições já estão abertas e é de extrema importância que todos a providenciem o quanto antes para que possamos dar continuidade ao processo de organização do evento.
Orientações aos autores
A seleção dos trabalhos será feita em duas etapas:
Até 31/01/2011: enviar um argumento (de até 1500 caracteres incluindo espaços).
A comissão científica realizará, a seguir, uma pré-seleção a partir dos argumentos, visando o conteúdo, mas também o necessário recobrimento temático.
- Até 31/03/2011: caso seu argumento tenha sido selecionado, enviar o trabalho completo (de até 6000 caracteres incluindo espaços).
EIXOS TEMÁTICOS
1. As surpresas de uma fala: as formações do inconsciente e seus efeitos com relação às identificações exigidas pelo mestre contemporâneo;
2. A loucura que estrutura: a função da p aranóia e da debilidade na constituição do laço social, o sintoma como o singular que faz laço.
3. Artifícios de socialização: sublimação, invenção e a loucura de cada um.
4. Lei e gozo: a miragem do gozo do Outro, culpa e responsabilidade.
5. Sucessos e fracassos na educação: ou quando o resto ensina.
6. A quantificação da vida: a mística da avaliação e a eficácia da psicanálise.
Pré-Programa
SÁBADO – 11/06/2010
8h-9h – Credenciamento
9h-10h – ABERTURA: Judith Miller e organizadores do ENAPOL
10h-11h30 – PLENÁRIA I
11h30-13h – CONFERÊNCIA de Éric Laurent
13h-14h – Recesso
SIMULTÂNEAS(sete salas): Incidências da psicanálise
14h-15h – Mesas Simultâneas I
15h-16h – Mesas Simultâneas II
16h-17h – Mesas Simultâneas III
17h-17h30 – Coffe-break
17h30-18h30 – Mesas Simultâneas IV
18h30-19h30 – Mesas Simultâneas V
FESTA
DOMINGO – 12/06/2010
9h-10h – Mesas Simultâneas VI
10h-11h – Mesas Simultâneas VII
11h-12h – Mesas Simultânes VIII
12h-13h – Mesas Simultâneas IX
13h- 13h30 - Coffee- break
13h – 14h30 - PLENÁRIA II
14h30 - 16h - CONFERÊNCIA de Leonardo Gorostiza
Comentários de Éric Laurent
16h - ENCERRAMENTO
domingo, 21 de novembro de 2010
Crack avança na classe média e entra na agenda política
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
A SALVAÇÃO PELOS DEJETOS
O analista só tem que se inserir no laço social que prescreve o discurso do mestre... se ele introduz à experiência psicanalítica, o laço social específico que se tece em torno do analista como dejeto, representante do que, do gozo, resta insocializável.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Divulgando curso ICP/EBP Rio
Os candidatos deveram entregar sua Carta de Apresentação e Currículo na secretaria do ICP até dia 5 de novembro de 2010.
Para maiores informações ligar para: 2286-7993 (Solange Vargas)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Aumento do consumo de crack no Rio de Janeiro
sábado, 16 de outubro de 2010
O limite entre beber socialmente e alcoolismo
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Divulgando o NIPIAC - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
___FREUD, S. (1923). “O ego e o id”. Em: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
sábado, 28 de agosto de 2010
“A moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”. Em: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
Retoma os aspectos sociológicos que foram discutidos nesse texto de 1908 em artigos posteriores como “O futuro de uma ilusão” (1927), “Por que a guerra?” (1933) e em “O mal-estar na civilização” (1930).
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Crack: Apocalipse químico
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Relatório Mundial sobre Drogas 2010 revela tendências de novas drogas e de novos mercados
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Resenha do texto “A significação do falo” de Lacan (1958/1998)
Lacan se lança, principalmente na década de 50, em um retorno ao sentido de Freud, com o objetivo de desenvolver a afirmação de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, ou seja, que a fala e a linguagem ocupam lugar central na experiência psicanalítica: “o sentido de um retorno a Freud é um retorno ao sentido de Freud” (1955/1998: 406).
Para tal, ele procura estabelecer a relação entre o Édipo e o simbólico, tal como ele nos apresenta no texto “A significação do falo”. Ali ele destaca que “o complexo de castração inconsciente tem uma função de nó“ (1958/1998: 692), ou seja, que é a partir do complexo de castração, ao operar uma função de lei, que o sujeito é inscrito na ordem simbólica, enquanto dividido, desejante. Da mesma forma, sob a barra da castração e do recalque, o sujeito se inscreve na ordem fálica, que exerce a função de regulação do gozo sexual.
Contudo, a apreensão do falo enquanto significante requer um passagem do sujeito do campo da demanda para o campo do desejo. E como isso acontece?
Lacan (1958/1998: 697-698) nos explica que: a) a demanda é algo distinto da satisfação por que clama, b) ela é demanda de uma presença e ausência, c) suas características são elididas na noção de frustração.
Assim, recorrendo ao O seminário, livro 4: as relações de objeto, destacamos a definição do conceito de frustração: “é considerada como um conjunto de impressões reais, vividas pelo sujeito num período de desenvolvimento em que sua relação com o objeto real está centrada habitualmente na imago dita primordial do seio materno” (Lacan, 1956-57/1998: 62). Ou seja, a frustração ocorre quando o objeto real – o seio – ou a mãe se ausentam. Quando a mãe não responde mais ao apelo da criança ela sai da estruturação e se torna real, se torna uma potência. Dessa forma, ocorre uma inversão da posição de objeto: o que até então eram objetos de satisfação tornam-se, por parte da potência materna, objeto de dom.
A transformação do objeto em simbólico, ou seja, a assunção do falo enquanto significante, requer que o sujeito se depare, para além da frustração com a mãe, com “um outro desejo”, que é o desejo do Pai: “é através do Édipo que o desejo genital é assumido e vem tomar lugar na economia subjetiva” (Lacan, 1957-58/1998: 371). É, portanto, por intermédio do desejo do Pai, e do significante falo, que se introduz o para-além da relação com a fala do Outro materno, ou seja, para além da demanda.
Assim, em relação à frustração, o pai proíbe a mãe – objeto real – ao filho, na medida em que intervém sobre essa relação incestuosa. No nível da privação, o pai é o objeto preferido em relação à mãe, desta forma o menino o elege como modelo, como ideal do eu, como aquele com quem passa a se identificar. E no que diz respeito à castração, trata-se de uma intervenção do pai real como uma ameaça imaginária sobre um falo imaginário, que ainda não alçou o valor simbólico, significante.
A passagem do campo da demanda para o campo do desejo é explicada de modo detalhado por Lacan (1957-58/1998: 197-203) quando ele apresenta os três tempos do complexo de Édipo. O primeiro tempo, da demanda, é caracterizado pela relação dual, imaginária, entre a criança e a mãe, em que a criança tem a ilusão de complementaridade com o corpo da mãe. Do mesmo modo, a criança se identifica de forma especular com o falo imaginário – objeto de desejo materno –, ela é o falo que falta à mãe. Nessa primeira fase do complexo de Édipo o pai se encontra de fora dessa tríade.
No segundo tempo do complexo de Édipo, o Pai intervém no desejo da mãe através da proibição do incesto, ele age como o agente da castração, numa presença privadora, como suporte da lei. É a palavra do Pai, que retira a criança do lugar de objeto, e a liga à vida e aos objetos do mundo.
No terceiro tempo, ocorre o declínio do Édipo, no qual a criança, através da continuidade da incidência do Pai na díade imaginária com a mãe, se posiciona diante do falo e encontra no Pai o suporte identificatório, na medida em que ele tem o falo que a mãe deseja. O menino sai, então, da posição de ser o falo da mãe para a posição de ter um falo (ibidem, p. 200).
Segundo Lacan o que está em jogo no declínio do Édipo é que a criança assuma o falo como significante, que saia da posição de engodo imaginário com a mãe. A saída de sua posição de objeto de desejo do outro materno só é possível com a entrada do Pai interditando a relação incestuosa. Desta forma, a criança vai perceber que existe algo mais-além da mãe, já que é o Pai quem tem aquilo que falta à mãe e que ela deseja: o falo (ibidem, p. 206). Como efeito da dissolução do complexo, a criança identifica-se ao Pai, ao mesmo tempo em que começa a se formar o supereu como instância reguladora das satisfações pulsionais.
Os conceitos apresentados e desenvolvidos acima colocam pontos importantes em relação ao manejo transferencial na clínica psicanalítica, tal como o cuidado para não obstruir a emergência do desejo do paciente face a satisfação de suas demandas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, J. (1955) “A Coisa freudiana”. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
_________. (1956-57) O Seminário, livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
_________. (1957-58) O Seminário, livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
_________. (1958) “A significação do falo”. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
GOZO SADIANO OU GOZO IMPOSSÍVEL: CONTRIBUIÇÕES PARA A ÉTICA DA PSICANÁLISE
LACAN, J. (1959-60). O seminário, Livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
PONTUAÇÕES SOBRE A COMPULSÃO À REPETIÇÃO NO CASO “O HOMEM DOS RATOS”
Segundo Freud (1924), o pai edipiano permanece como um ideal e continua a exercer sua autoridade através do supereu. Porém na neurose obsessiva o sujeito se fixa de tal modo no pai ideal, que o supereu retorna de um modo feroz: exige a renúncia do gozo causando inibição, impulsos compulsivos, proibições e atos obsessivos.
No caso do “Homem dos Ratos” a figura paterna era tão forte que ele falava do pai como se ainda fosse vivo. A identificação com o pai como fracassado tornava suas dívidas impossíveis de serem pagas, como foi o caso do pince-nez (Freud, 1909: 149). Ao ser tão devedor como o pai o “Homem dos Ratos” evitava superá-lo.
A compulsão à repetição que passa a ser marcante na vida do “Homem dos Ratos” nos remete ao ponto que não pode ser enunciado e que retorna: o impedimento de superar o pai, pois se isso acontecesse o pai perderia seu valor de ideal.
Diante da dívida impossível de pagar, a história se reduplica e o “Homem dos Ratos” reatualiza a dívida do pai e faz de tudo para não conseguir pagá-la. Diferente da histérica, o recalque no obsessivo é mal-sucedido, por isso ele repete num ponto de real.
Lacan (1964) em O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise define o conceito de compulsão à repetição como um encontro com o real. O real é aquilo que “retorna sempre ao mesmo lugar, a esse lugar onde o sujeito não o encontra” (ibidem, p. 52), ou seja, o real é isso que não cessa de não se inscrever, é esse ponto onde o inassimilável se produz.
A compulsão à repetição aponta um mais além do princípio do prazer. Freud (1900-1901) evidencia essa relação por meio da análise que faz de um sonho. Nesse sonho um pai, que deveria velar o filho morto, deixa um velho vigiando o corpo do menino e vai descansar num quarto ao lado. Em algum momento o pai adormece e sonha que o filho está de pé ao seu lado e lhe diz “Pai, não vês que estou queimando?”. Nesse momento o pai desperta e vê que realmente o corpo do filho estava queimando por conta de uma vela que caíra sobre ele enquanto o velho que o vigiava dormira. Esse sonho corrobora com a tese de que o sonho é uma realização de desejo – porque além do filho estar vivo no sonho o pai também realiza o desejo de continuar dormindo –, porém aponta um novo elemento, algo mais além do princípio do prazer.
Deste modo, o caráter de compulsão à repetição presente nesse sonho cria um entrave à oposição entre princípio do prazer/princípio de realidade. Tal impasse, retomado por Freud em textos posteriores, culminou na formulação de um novo dualismo pulsional entre a pulsão de vida à pulsão de morte. Na medida em que a pulsão de morte é incluída no aparelho psíquico a repetição deixa de ser uma “recordação” ou um retorno às experiências traumáticas para ser uma tentativa de vincular a energia que permaneceu não ligada.
Lacan (1964: 56) em O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise retoma a questão da repetição para assinalar que ela pode se apresentar de dois modos: através do autômaton e da tiquê. O autômaton é o retorno, a insistência dos signos comandada pelo princípio do prazer. Há também na repetição a função da tiquê: encontro com faltoso, traumático, com o real, que comporta algo de inassimilável.
Ainda nesse Seminário Lacan (ibidem, p. 59) retoma o sonho de “Pai não vês que estou queimando?” para dizer que um ruído, talvez das velas queimando, chamou o pai ao real. Assinala a presença de uma realidade faltosa, que teria causado a morte da criança por febre, e para o remorso do pai por ter deixado o corpo do filho sendo velado por um velho que talvez não desse conta da tarefa. O “pecado do pai” foi não estar à altura de sua função de velar o filho morto:
O filho morto, pegando o pai pelo braço, visão atroz, designa um mais-além que se faz ouvir no sonho. O desejo aí se presentifica pela perda imajada ao ponto mais cruel, do objeto. É no sonho somente que se pode dar a esse encontro verdadeiramente único. Só um rito, um ato sempre repetido, pode comemorar esse encontro imemorável (Ibidem: 60).
O fenômeno da compulsão à repetição tão presente na análise de obsessivos nos aponta para algo a ser trabalhado aí, pois o ponto de real que insiste clama pela elaboração, na tentativa de dar sentido a algo que permanece enigmático. Se o obsessivo recobre seu desejo pela demanda – na medida em que faz de tudo para ser completo, e também para fazer do Outro completo – ao tentar preencher o furo que lhe é constituinte, a análise aponta para a falta, para a emergência do desejo e para a construção de um saber-fazer aí com esse ponto de real que persiste em retornar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund. (1900-1901). “A interpretação dos sonhos”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. XIII . Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_______________. (1909). “Notas sobre um caso de neurose obsessiva”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. X. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_______________ (1924). “A dissolução do complexo de Édipo”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. XIX, op. cit.
LACAN, J. (1964). O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979.
A FUNÇÃO DO PAI NO CASO DO PEQUENO HANS
Inicialmente Hans se encontra no que Lacan define como “paraíso” com a mãe, relação dual, imaginária, a ilusão de complementaridade com o corpo da mãe. Nessa relação a criança é objeto de desejo da mãe, é o falo que falta a ela.
Porém há um momento em que se rompe essa relação dual: o encontro com o traumático, o real que faz furo no imaginário. As experiências traumáticas são o nascimento da irmã e as experiências masturbatórias. Elas furam a relação de engodo imaginário, pois defrontam Hans com algo externo ao paraíso, o que acontece quando seu próprio pênis começa a se tornar real, falo como um órgão fora do corpo, e o nascimento da irmã que rompe sua relação de unicidade com a mãe.
A partir desse momento Hans elege um objeto à condição de significante para dar conta da falta simbólica. O objeto fóbico (Cavalo) é uma proteção contra angústia que advém de sua relação com a mãe.
No capítulo IV de “Inibição, sintoma e angústia” (1926), Freud define a fobia como um sintoma substituto para algo que foi recalcado (impulso hostil contra o pai). A fobia de Hans “eliminou os dois principais impulsos do complexo edipiano – sua agressividade para com o pai e seu excesso de afeição pela mãe” (Freud, 1926: 109).
Vale destacar que se para Freud o objeto fóbico “cavalo” aparece como substituto do pai, Lacan dá ao cavalo e aos outros elementos da fantasia não uma função metafórica e sim metonímica, de deslizamento, por exemplo, o cavalo que representa num primeiro momento a mãe, por último o pai e ainda o pequeno Hans.
Segundo Freud (1909: 47), a angústia de Hans possui dois componentes: o medo de seu pai e medo por seu pai: “O primeiro derivava de sua hostilidade para com seu pai, e o outro derivava do conflito entre sua afeição, exagerada a esse ponto por um mecanismo de compensação, e sua hostilidade”. Assim, ele tinha tanto medo que o cavalo o mordesse (que o pai o castrasse), como que o cavalo caísse (morte do pai).
Podemos aqui pensar que a construção fóbica de Hans está estritamente relacionada com a função paterna e que, portanto, é essa função exercida pelo pai que encaminha a solução da fobia. A fobia é uma solução à deficiência paterna através da eleição de um objeto que alça o valor de significante e assim funciona como suplência que sustenta a função do pai real.
A fobia surge, como nos ensina Lacan, por causa da carência do pai real, é porque o pai não funciona como agente da castração que Hans não pode sair da posição Edípica (amor pela mãe e ódio pelo pai). Uma fantasia que ilustra o Édipo de Hans é aquela em que há duas girafas, uma girafa grande e outra amassada, representando o órgão genital da mãe. Na fantasia ele se senta na girafa grande, que representaria seu pai, e com isso ele tomaria posse da mãe.
Lacan analisa que mesmo Hans tendo tomado posse da mãe na fantasia, o pai não reage com raiva. Hans chega a dizer “você deve estar com raiva, você deve estar com ciúmes” (Lacan, 1956-57: 269), mas o pai não reage diante do Édipo apresentado pelo filho.
A fobia se deve, então, a carência do pai real. Segundo Lacan, Hans, filho único, nadava em felicidade. A mãe o cercava de carinhos, tudo lhe era permitido (inclusive ficar no leito dos pais) e o pai não tinha o controle da situação, não apresentava nenhuma ameaça de castração ao pequeno Hans (Lacan, 1956-57: 227). Hans não é frustrado em nada, não é privado pelo pai de seus prazeres: “vemos ao longo de toda a observação o pequeno Hans reagir à intervenção do pai real. Sua colocação na estufa, sob o fogo cruzado da interrogação paterna, mostra ter sido favorável nele a uma verdadeira cultura da fobia” (ibidem, p. 263). Lacan assinala que a fobia de Hans foi intensificada pela ação do pai.
A posição do pai simbólico, como nos diz Lacan, permanece velada, na medida em que ocupa a posição de pai imaginário ao tentar diminuir a culpa de Hans, explicando que sua fobia é uma bobagem, que ele pode olhar os cavalos, que o falo desejado (na mãe) não existe etc.
Lacan assinala que na verdade quem exerce o papel de Pai para Hans é Freud, o “pai superior”, aquele “a quem a palavra se revela como testemunho da verdade”. O pai de Hans diante de seu não-saber o que é ser um pai o demanda a Freud e a partir daí é o professor quem traça o encaminhamento da solução da fobia do menino através das orientações dada ao pai.
Podemos dizer que através da construção de fantasias é que Hans consegue dar conta da castração. Com a fantasia de que um bombeiro “lhe dava um pipi maior” ele supera o medo da castração e soluciona a fobia. O bombeiro que lhe desparafusa, coloca a dimensão do objeto como removível, objeto de troca situado fora do corpo. Com isso o falo se torna significante, aparelhado de uma mobilidade simbólica.
domingo, 27 de junho de 2010
Um apego singular: a transferência e suas surpresas
"Freud serviu a Eros para se servir dele” (J. Lacan)
No princípio era o amor – é assim que Jacques Lacan circunscreve o ponto de
Comissão científica
domingo, 13 de junho de 2010
A epidemia do uso de crack
Aluizio Freire Do G1 RJ
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Divulgando o XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano da EBP - Escola Brasileira de Psicanálise.
O sintoma na clínica do delírio generalizado
“Chamo delírio uma montagem de linguagem que não tem correlato de realidade, ou seja, a que nada corresponde na intuição. Chamo delírio uma montagem de linguagem construída sobre um vazio. E digo: todo mundo delira. Essa é a perspectiva que chamo de delírio generalizado.” (MILLER, A psicose no texto de Lacan. Curinga, n.13, p .95)
“O sintoma na clínica do delírio generalizado” é o título do XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que acontecerá em São Paulo, nos dias 19, 20 e 21 de novembro de 2010. Esse Encontro se inscreve na série de um trabalho profícuo que vem sendo desenvolvido em todo o Campo Freudiano e na Associação Mundial de Psicanálise, no qual o sintoma é o ponto nodal da discussão.
O sintoma, em seu cerne, é um modo de gozo, uma satisfação que vem substituir aquela concernente à relação sexual, se ela existisse. A inexistência da relação sexual implica, portanto, que toda construção sintomática se baseia em um momento fundador do sujeito, no qual algo fica de fora, expulso, foracluído de qualquer possibilidade de simbolização. Nesse sentido, o sintoma é uma solução substitutiva, que diz respeito à forma contingente que a inexistência da relação sexual toma para cada um, ou seja, o sintoma é uma maneira singular, única, que cada sujeito inventa para abordar o real, é o que faz a diferença. A experiência analítica visa à extração dessa diferença absoluta que, para além de toda articulação simbólica, de toda ficção a ser construída no decorrer de uma análise, permanece como um resto incurável a partir do qual o sujeito poderá fazer de sua singularidade algo inédito.
No XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, dedicado ao sintoma na clínica do delírio generalizado, esperamos poder recolher, discutir e elaborar as diversas formas de ancoragens diante do real que o sintoma possibilita. Cinco eixos nortearão a abordagem desse tema em nosso Encontro:
1) Delírio e sintoma nas psicoses
2) O delírio generalizado na clínica da neurose
3) Os destinos do sintoma no tratamento analítico
4) Manifestações contemporâneas do delírio generalizado
5) Incidências da clínica do delírio generalizado na formação dos analistas
Referência Bibliográfica Básica
FREUD, Sigmund. A perda da realidade na neurose e na psicose (1924). In: Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 229-234.
LACAN, Jacques. Transfert à Saint Denis? Ornicar?, n. 17-18, 1979, p. 278. LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23: o sinthoma (1975-1976). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
MILLER, Jacques-Alain. Clínica irônica (1993). In: Matemas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 190-200.
MILLER, Jacques-Alain. Curso da Orientação Lacaniana “Coisas de Fineza em Psicanálise”, aulas XVIII, XIX e XX.
MILLER, Jacques-Alain. Orientation Lacanienne III, 10: Tout le monde est fou. Paris, 2007-2008, lições XVI, XVII, XVIII.
LAURENT, Éric. O delírio de normalidade (2008). In: VIEIRA, Marcus André e MANDIL, Ram (orgs.). A clínica analítica hoje: o sintoma e o laço social. IV Encontro Americano de Psicanálise Aplicada da Orientação Lacaniana. Buenos Aires: Grama Ediciones, 2009, p. 23-33.
Rômulo Ferreira da SilvaSimone Souto
terça-feira, 4 de maio de 2010
IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental

sábado, 24 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010

Será realizado na UERJ o II Congresso Brasileiro de Saúde Mental dia 03 a 05 de junho de 2010. Estão abertas as inscrições de no congresso e também as inscrições de trabalho.
Acredito que vai ser um espaço bem legal de discussão e construção na área da saúde mental, acerca das práticas, cuidados e fazeres, política pública de saúde mental, e questões sociais e culturais que envolvam os usuários e técnicos dos serviços.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Jacques-Alain Miller, é psicanalista em Paris e dirige o Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII, na França. Fundou a Associação Mundial de Psicanálise (AMP) e foi seu primeiro delegado geral. É o responsável pelo estabelecimento de texto dos Seminários e outros artigos de Lacan.
Publicada em 25/02/2010 N°1953 Le Point
ENTREVISTA COM Jacques-Alain Miller
«Seu olho é capturado enquanto sua cabeça é posta para dormir»
Entrevista feita por Christophe Labbé e Olivia Recasens
Le Point : « Avatar » é um sucesso planetário. O que fez com que a humanidade inteira fosse ver esse filme?
Jacques-Alain Miller : Sua debilidade. Este efeito de debilidade é habilmente obtido cindindo pensamento e percepção. O cenário é um pot-pourri de mitos imemoráveis, de arquétipos banais e clichês New Age, feitos para dar, a todo momento, uma impressão de déjà-vu. Resultado: o senso crítico é adormecido, paralisado, o pensamento retorna facilmente a sua rotina. No entanto, em termos de imagem, é a festa, o jogo do artifício, do jamais-vu. O elemento simbólico do filme é tão arcaico quanto sua imaginação é futurista. A tecnologia se apoia no braço da mitologia, a parceria é irresistível
Adolescentes ficam orgulhosos em dizer que já viram «Avatar», 2, 3, 5, 10 vezes...
Seu olho é capturado, super excitado, e ele goza, portanto, mais intensamente, de modo que sua cabeça é adormecida. Quando o gozo do olho é tão intenso, ele se torna aditivo. Encontra-se aqui, a mesma síndrome que foi isolada com os vídeo games ou com a Internet. A humanidade está envolvida, abandonada a essa nova bebida.
Como o Sr. explica isso?
A debilidade mental do ser humano tende, precisamente, a isso que ele vê sempre, sob dois planos, ao mesmo tempo, real e imaginário, ser e dever-ser: ele sonha sua vida com os olhos abertos. Este dado antropológico, as novas tecnologias se apoderam para manipular seu sonho, acordado, com uma precisão e uma habilidade, até aqui, inéditas. Isto é apenas um começo.
O cinema tem sempre ofertado identificações ao espectador.
«Avatar» explora um além do cinema. Não se trata apenas de identificação, sempre pontual, baseada num traço singular, mas de uma imersão psicossomática em um universo. O cenário exibe também a mola: a alma do herói tetraplégico desliza em outro corpo para dar cambalhotas em outro mundo, enquanto o espectador se aloja arriado em sua cadeira.
É esse o filme que nossa época espera?
Seu sucesso mostra que a humanidade acaba de se desgostar da espécie humana. Não estamos mais no «mal estar na civilização» denunciado por Freud, mas claramente, num impasse crescente. O salve-se quem puder é geral. Num momento em que a globalização do capitalismo exacerba o individualismo, a competição, o cada um por si, como foi dito, que cerca de auréola, de uma docilidade imaginária, a natureza, a animalidade. Aspira-se um comunismo primitivo autoritário, sob a forma de um tribalismo quase vegetal.
Os neoconservadores americanos são, com efeito, hostis ao filme. Mas, o Vaticano também.
Porque «Avatar» é o toque de clarim de uma ressurreição pagã. Estes longos corpos azuis, sinuosos e sensuais, é uma entrada sedutora na era da pós-humanidade. O homem deseja tornar-se um produto de síntese. Amanhã, a engenharia biológica, o gênio genético farão desse sonho, realidade, e pesadelo.
Por que o azul?
É a cor do «supremo Clarim, pleno de sons estridentes estranhos, silêncios atravessando Mundos e Anjos», de que fala Rimbaud. A noite de Pierre Soulages lhe reenvia a sua dor de existir; o azul de «Avatar», sua luxúria sensorial, lhe anestesia. A escolha é límpida.
Tradução: Mª Cristina Maia
terça-feira, 6 de abril de 2010
A psicanálise e os "novos sintomas"
Deste modo, a toxicomania é considerada, na atualidade, como a forma princeps dos “novos sintomas”, e acarreta para os analistas e profissionais de saúde uma dificuldade no diagnóstico diferencial, na medida em que as estruturas clínicas são mascaradas pelo objeto-droga e o toxicômano apresenta resistência ao tratamento clínico, como efeito de uma falta de demanda e dificuldade de estabelecimento da relação transferencial.
Deste modo, percebemos uma mudança fundamental em relação à definição clássica do sintoma freudiano, que defendia como chave do sintoma a castração, pois Lacan define o sintoma como modo de gozo, como um meio da pulsão expressar a impossibilidade de sua satisfação plena, impossível de se decifrar.
[1] MILLER, J.-A. - El partenaire-síntoma. Buenos Aires: Paidós, 2008