sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A SALVAÇÃO PELOS DEJETOS

Jacques-Alain Miller



Me parece muito justo dizer que André Breton prometeu a salvação pela via dos dejetos. Mas é ainda mais justo dizê-lo de Freud.
Pode-se dizer que o ideal é a glória da forma, enquanto o dejeto é in-forme.
A essência da arte é a de estetizar o dejeto, de idealizá-lo, de sublimá-lo...O gozo como tal, no entanto, não puxa para o alto. E ele é nu.
Quando o gozo é elevado à dignidade de Coisa, quando ele não é rebaixado à indignidade do dejeto, ele é sublimado, ou seja, socializado.
É apenas através da sublimação que o gozo faz laço social (...). A sexualidade só se socializa quando ligada à reprodução (...) suscetível de elevar a criança, como objeto, à dignidade da Coisa.
Pode ser que o gozo do Outro social ganhe corpo, que consiga ser identificado no lugar do Outro (...). É quando, pode-se dizer, ou subentender, que "o Outro goza de mim".
De certa maneira é impossível ser alguém sem ser paranoico (...) é a paranóia que socializa o sujeito pela suposição no Outro de uma vontade de gozo (...) pode-se dizer que essa paranóia motiva também toda defesa contra o real.
A inserção social da psicanálise, se ela tivesse que se realizar, seria ao mesmo tempo o seu desaparecimento.
O analista só tem que se inserir no laço social que prescreve o discurso do mestre... se ele introduz à experiência psicanalítica, o laço social específico que se tece em torno do analista como dejeto, representante do que, do gozo, resta insocializável.

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