sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


No próximo ano, teremos o imenso prazer de receber, aqui no Rio, colegas de diversos países e avançarmos juntos no tema do V Encontro Americano. Com muito entusiasmo, as Comissões têm se reunido há bastante tempo para que tudo esteja organizado e possamos desfrutar de mais este momento de trabalho.


As inscrições já estão abertas e é de extrema importância que todos a providenciem o quanto antes para que possamos dar continuidade ao processo de organização do evento.

Orientações aos autores


A seleção dos trabalhos será feita em duas etapas:

Até 31/01/2011: enviar um argumento (de até 1500 caracteres incluindo espaços).

A comissão científica realizará, a seguir, uma pré-seleção a partir dos argumentos, visando o conteúdo, mas também o necessário recobrimento temático.

- Até 31/03/2011: caso seu argumento tenha sido selecionado, enviar o trabalho completo (de até 6000 caracteres incluindo espaços).
 
EIXOS TEMÁTICOS

1. As surpresas de uma fala: as formações do inconsciente e seus efeitos com relação às identificações exigidas pelo mestre contemporâneo;
2. A loucura que estrutura: a função da p aranóia e da debilidade na constituição do laço social, o sintoma como o singular que faz laço.
3. Artifícios de socialização: sublimação, invenção e a loucura de cada um.
4. Lei e gozo: a miragem do gozo do Outro, culpa e responsabilidade.
5. Sucessos e fracassos na educação: ou quando o resto ensina.
6. A quantificação da vida: a mística da avaliação e a eficácia da psicanálise.

Pré-Programa


SÁBADO – 11/06/2010
8h-9h – Credenciamento
9h-10h – ABERTURA: Judith Miller e organizadores do ENAPOL
10h-11h30 – PLENÁRIA I
11h30-13h – CONFERÊNCIA de Éric Laurent
13h-14h – Recesso

SIMULTÂNEAS(sete salas): Incidências da psicanálise
14h-15h – Mesas Simultâneas I
15h-16h – Mesas Simultâneas II
16h-17h – Mesas Simultâneas III
17h-17h30 – Coffe-break
17h30-18h30 – Mesas Simultâneas IV
18h30-19h30 – Mesas Simultâneas V

FESTA
DOMINGO – 12/06/2010
9h-10h – Mesas Simultâneas VI
10h-11h – Mesas Simultâneas VII
11h-12h – Mesas Simultânes VIII
12h-13h – Mesas Simultâneas IX
13h- 13h30 - Coffee- break
13h – 14h30 - PLENÁRIA II
14h30 - 16h - CONFERÊNCIA de Leonardo Gorostiza
Comentários de Éric Laurent
16h - ENCERRAMENTO

domingo, 21 de novembro de 2010

Crack avança na classe média e entra na agenda política

A tragédia do crack não é nova para o Brasil. Há anos, o país convive com o drama de violência e morte. Novo e oportuno, contudo, é o fato de a elite política do país, enfim, reconhecer a emergência do problema. No último dia 31, em seu primeiro discurso como presidente eleita, Dilma Rousseff disse que o governo não deveria descansar enquanto "reinar o crack e as cracolândias". Poderia ter falado genericamente "drogas", mas referiu-se especificamente ao "crack". Não foi à toa. Estima-se que no mínimo 600.000 pessoas sejam dependentes da droga no país - variante devastadora da cocaína que, como nenhuma outra, mata 30% de seus usuários no prazo máximo de cinco anos.

Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divulgada em 2009 constatou que o crack avança rapidamente entre os mais abastados: o crescimento entre pessoas com renda superior a vinte salários mínimos foi de 139,5%. Além dos números, os dramas pessoais confirmam que a química do crack corrói toda a sociedade. Nas clínicas particulares, que custam aos viciados que tentam se livrar da cruz alucinógena milhares de reais ao mês, multiplicam-se universitários, empresários, professores, militares.
O crack se espraia pelas classes sociais e pelas paragens brasileiras. "Antes, São Paulo era o reduto. Falava-se do assunto como um fenômeno paulistano. Agora, ele chega com força em outras cidades e estados", diz Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Embora não haja números precisos sobre consumo, os dados sobre apreensão da droga permitem concluir que cada vez mais gente é ferida pela pedra. Segundo dados da Polícia Federal, em 2009, foram apreendidos 513 quilos da droga - volume 43 vezes superior ao registrado no início da década.
Embora tardias, duas pesquisas em andamento na esfera do governo federal explicitam a preocupação das autoridades com a questão. Uma, a cargo do Ministério da Saúde, vai traçar o perfil do usuário de crack. Outra, nas mãos da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), pretende determinar padrões de consumo, barreiras para o tratamento e histórico social e médico de 22.000 usuários - que farão testes de HIV, hepatites (B e C) e tuberculose. Paulina Duarte, secretária adjunta da Senad e responsável técnica pelo estudo, acredita que será a maior pesquisa já realizada no mundo sobre o crack. "Um estudo dessa magnitude vai produzir um banco de dados gigantesco", diz.

Droga nefasta - "Comparado a outras drogas, o crack é sem dúvida a mais nefasta, porque produz rapidamente a dependência: sob a compulsão pela substância, o usuário desenvolve comportamentos de risco, que podem chegar à atividade criminosa e à prostituição", diz Solange Nappo, da Unifesp. Pablo Roig, psiquiatra e dono de uma clínica de tratamento de dependentes químicos, acrescenta que a dependência chega a tal ponto que "o usuário perde a capacidade de decidir se usará ou não a droga".
A mancha do crack se espalha entre usuários de drogas devido a uma combinação de acesso econômico e potência química. Jairo Werner, psiquiatra da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, chama a atenção para a relação "custo-efeito" da droga. "A relação entre preço e efeito faz do crack uma droga muito popular, de fácil acesso", diz. Ele explica ainda que os traficantes desenvolveram uma verdadeira estratégia para ampliar o mercado da droga: a "venda casada", de maconha mais crack. "No primeiro momento, a maconha dá um relaxamento e o efeito do crack é mitigado. Depois, o usuário resolve experimentar o crack puro e sente um efeito muito mais poderoso."
Começam, então, as mudanças de comportamento. Além de graves consequências para a saúde, a droga provoca no dependente atitudes violentas. "Ele fica alterado, inquieto, irritado e, em geral, passa a se envolver com a criminalidade como nenhum outro usuário de drogas", diz Laranjeira, da Associação Brasileira de Psiquiatria. "A única prioridade é a droga: a saúde, a família, o trabalho e os amigos ficam de lado. É uma mudança total no esquema de vida e estrutura de valores", acrescenta Roig.
Estimativas americanas apontam que, a cada dólar gasto no combate às drogas, a sociedade economiza até sete dólares em despesas com hospitais, segurança pública e acidentes de carros, entre outros. No caso devastador do crack, fica evidente que a cruzada antidroga pode economizar ainda mais vidas.



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A SALVAÇÃO PELOS DEJETOS

Jacques-Alain Miller



Me parece muito justo dizer que André Breton prometeu a salvação pela via dos dejetos. Mas é ainda mais justo dizê-lo de Freud.
Pode-se dizer que o ideal é a glória da forma, enquanto o dejeto é in-forme.
A essência da arte é a de estetizar o dejeto, de idealizá-lo, de sublimá-lo...O gozo como tal, no entanto, não puxa para o alto. E ele é nu.
Quando o gozo é elevado à dignidade de Coisa, quando ele não é rebaixado à indignidade do dejeto, ele é sublimado, ou seja, socializado.
É apenas através da sublimação que o gozo faz laço social (...). A sexualidade só se socializa quando ligada à reprodução (...) suscetível de elevar a criança, como objeto, à dignidade da Coisa.
Pode ser que o gozo do Outro social ganhe corpo, que consiga ser identificado no lugar do Outro (...). É quando, pode-se dizer, ou subentender, que "o Outro goza de mim".
De certa maneira é impossível ser alguém sem ser paranoico (...) é a paranóia que socializa o sujeito pela suposição no Outro de uma vontade de gozo (...) pode-se dizer que essa paranóia motiva também toda defesa contra o real.
A inserção social da psicanálise, se ela tivesse que se realizar, seria ao mesmo tempo o seu desaparecimento.
O analista só tem que se inserir no laço social que prescreve o discurso do mestre... se ele introduz à experiência psicanalítica, o laço social específico que se tece em torno do analista como dejeto, representante do que, do gozo, resta insocializável.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Divulgando curso ICP/EBP Rio


Inscrições Abertas para o Ciclo Fundamental

O Instituto de Clínica Psicanalítica comunica que se encontram abertas as inscrições para a seleção de uma nova turma do Ciclo Fundamental que se iniciará no primeiro semestre de 2011.

O Ciclo oferece um ensino sistemático da orientação lacaniana da psicanálise através de Cursos (fundamental e suplementares) e da participação nos Núcleos de Pesquisa do ICP. Estruturado pelo vetor: “de Lacan a Freud” ele se insere no contexto da formação continua do psicanalista e de atualização da clínica psicanalítica.

Os candidatos deveram entregar sua Carta de Apresentação e Currículo na secretaria do ICP até dia 5 de novembro de 2010.

Para maiores informações ligar para: 2286-7993 (Solange Vargas)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Aumento do consumo de crack no Rio de Janeiro

Na Glória, Zona Sul do Rio, usuários consomem crack livremente em praça. Usuários de outras drogas passaram a consumir crack, segundo pesquisa.

Uma pesquisa inédita da Fundação Oswaldo Cruz mostra que o consumo do crack vem aumentando muito mais do que outras drogas no Rio de Janeiro. Na Glória, Zona Sul do Rio, usuários de crack consomem a droga livremente.

Por volta de 10h30, um grupo consome crack à vontade no Largo da Glória. A droga roda de mão em mão indiscriminadamente, inclusive entre crianças e até uma mulher grávida.

Uma mãe de 17 anos confessa ter passado por várias Cracolândias durante a gravidez, consumindo crack até a hora do parto.

“Eu acabei de fumar o crack, minha bolsa estourou no meio da Cracolândia. E mesmo a água saindo eu queria usar mais droga. Eu arrumei R$ 2. Eu ia usar, mas começou a descer mais água, mais água. Ai eu fui nesse hospital. Chegando ao hospital, eles pegaram e falaram que não estava na hora ainda, que tinha que amadurecer o pulmão do neném. Eu ia ficar internada lá. Ai minha filha nasceu com infecção, nasceu de oito meses, nasceu prematura”, afirmou ela.

Desde que deu à luz, há três meses, a mãe na usa mais drogas. As duas estão vivendo em um abrigo da prefeitura, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio.

“Quando eu sinto vontade, eu pego um livro, leio. Porque agora eu tenho que pensar não é só eu mais. Não estou mais sozinha, agora eu tenho uma filha pra cuidar. Minha filha não precisa de família, a família que ela precisa é eu. Ela é a família que eu nunca tive. A partir de hoje meu vício vai ser ela.”

A pesquisa

O recomeço não esconde as cicatrizes do vício. Por causa do crack, a adolescente já perdeu a guarda de um filho, atualmente com três anos.

A pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz revela que em apenas dois anos o número de usuários de outras drogas que passaram a consumir o crack cresceu seis vezes. O crack é uma droga de baixo custo, e fácil de ser comprada. E o que ela tem de barato, ela tem de devastadora.

O estudo foi coordenado pelo pesquisador Francisco Bastos, especialista em Aids e drogas. Ele confirma que, além de devastador, o crack tem outro grave efeito colateral: crianças e adolescentes entram cada vez mais no mundo das drogas pesadas.

“Do ponto de vista da saúde pública, eu acho que esse seja talvez o desafio maior. Porque ao pegar pessoas muitos jovens, essas pessoas não chegaram nem a se inserir na sua vida social”, afirmou o pesquisador.

Pacificação pode ajudar no combate
Ele não tem dúvida em afirmar: O crack é uma epidemia. E a cura passa pela reintegração social dos dependentes químicos.

“Eu acho que políticas públicas de cunho social, de ressocialização das pessoas, inserção em escolas, ela diminui o contexto social que favorece o consumo. Obviamente para as pessoas que já estão usando você tem que oferecer tratamento de uma forma mais ágil possível.

Mesmo acostumado com histórias desoladoras, Francisco está otimista. Ele acredita que a pacificação de comunidades pode estimular a expansão de programas de saúde pública, inclusive na área das drogas.

“Às vezes você tentava trabalhar e não conseguia e isso não só modulava o tráfico de uma forma complicada, rivalidades, conflitos, como impedia o nosso trabalho”, disse.

A Secretaria de Assistência Social do município afirmou que há 78 vagas em centros de recuperação de usuários drogas atualmente. O secretário Fernando Willian afirmou que o crack é uma droga que entrou há cerca de 5 anos no Rio de Janeiro. “Foi crescendo ano a no de forma preocupante e assustadora. Não havia nenhuma unidade de atendimento, nada que se fizesse no sentido de se enfrentar essa questão. No período de um ano e dez meses que estamos no governo criamos essas 78 vagas: 60 para crianças e adolescentes e 18 vagas para mulheres”, disse.

“Estamos trabalhando intensamente na prevenção, através do centro de referência de assistência, através das escolas, através das famílias, que é o que é fundamental”, completou. De acordo com ele, no Largo da Glória estão sendo feitas várias ações de acolhimento. “Os meninos vão ao centro de acolhimento, alguns aceitam tratamento, e muitos, infelizmente, dado o que significa a droga hoje para essas crianças, eles evadem. Como não tem registro de delitos eles não podem ficar aprisionados”.

sábado, 16 de outubro de 2010

O limite entre beber socialmente e alcoolismo

Retirado do Boletim eletrônico da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas

Estima-se que 20% dos brasileiros, cerca de 32 milhões, bebem mais do que “socialmente”. O consumo de álcool é uma das três maiores causas de faltas ao trabalho e cerca de 65% dos acidentes de trabalho estão relacionados ao uso do álcool e outras drogas. Usuários de drogas faltam dez vezes mais ao trabalho, usam 16 vezes mais os serviços de saúde e solicitam cinco vezes mais indenizações. A produtividade de um usuário de álcool é 20% menor do que a de um trabalhador abstêmio e 70% dos usuários de drogas estão empregados.
O álcool deprime o Sistema Nervoso Central, o que afeta julgamento, nível de consciência, autocontrole e coordenação motora. A cada dose, ocorre um aumento de concentração de álcool no sangue, sendo que uma unidade de bebida alcoólica gera uma hora de efeitos físicos no organismo.

Inicialmente, há sintomas de euforia, evoluindo para tonturas, dificuldade na fala e na coordenação motora, confusão e desorientação. Níveis elevados podem levar à anestesia, coma e morte. Os sintomas físicos da intoxicação alcoólica são aumento da diurese, redução dos reflexos motores, náuseas, vômitos e aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea.

Em médio e longo prazo, os efeitos são tolerância (necessidade de doses maiores para obter as mesmas sensações de prazer e relaxamento de antes), síndrome de abstinência (tremores, náusea, sudorese, ansiedade e irritabilidade quando sóbrio), dependência, complicações clínicas, risco de acidentes de trabalho e trânsito, problemas sociais, familiares, econômicos e judiciais.

Classifica-se como uso nocivo do álcool quando o indivíduo bebe quantidade acima do tolerável pelo organismo, seja este uso frequente, ou ocasional. Beber em quantidades acima das doses estipuladas é considerado uso nocivo do álcool e os riscos aumentam no sentido de causar problemas físicos, laborais, sociais, judiciais, familiares e levar à dependência. O uso constante, descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode comprometer seriamente o funcionamento do organismo, levando-o a consequências irreversíveis.

A psicóloga Cristiane Sales, do Centro Psicológico de Qualidade de Vida, explica que um indivíduo deve procurar ajuda quando:
• As pessoas próximas estão preocupadas com seu padrão de consumo.
• Sai com amigos e bebe mais do que eles.
• Bebe muito e não fica visivelmente embriagado.
• Tem a percepção de que não tem controle sobre frequência e quantidade de consumo.
• Sente vontade de beber pela manhã.
• Fica irritado se alguém critica a maneira como bebe.
• Acredita que o álcool possa estar fazendo mal à saúde.
• Prejuízo por causa do álcool no trabalho, família, finanças, justiça, acidentes.
• Se sente culpado pela forma de beber.
• Já tentou parar ou diminuir sozinho, mas não conseguiu.
A dependência do álcool leva anos para se estabelecer, portanto se a pessoa perceber que seu padrão de consumo não está saudável deve parar antes de ter qualquer prejuízo. Percebe-se que faz uso nocivo de bebidas alcoólicas e pretende controlar o consumo, ou tornar-se abstêmio, pode procurar ajuda de um serviço de saúde especializado, como o Centro Psicológico de Qualidade de Vida, que conta com profissionais preparados para oferecer orientação sobre o consumo do álcool a tratamento especializado para a dependência.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Divulgando o NIPIAC - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas

O Programa de Pós-graduação em Psicologia, por meio de seu Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas – NIPIAC, realizará nos dias 20 a 22 de outubro de 2010, no Campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Seminário Latinoamericano de Juventude e Política, e o IV Internúcleos sobre Juventude e Política.
O evento visa reunir pesquisadores latinoamericanos para a troca e o aprofundamento de questões acerca da participação política e social dos jovens no mundo contemporâneo.

Maiores informações no site: http://www.psicologia.ufrj.br/nipiac/

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

___FREUD, S. (1923). “O ego e o id”. Em: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud

Nesse texto, Freud retoma a distinção entre consciente e inconsciente, mas para caracterizar este último como “latente e capaz de tornar-se consciente” (p.28). Essa nova formação da mente se organiza em três sistemas: o id, o eu e o supereu.
Freud apresenta um “esquema mental” no qual formula a existência de um isso primitivo, que sob influência do mundo se diferencia e dá origem ao eu. Com isso o eu está fundido, em sua parte inferior, com o isso e apresenta em sua superfície o pré-consciente. O reprimido não pertence exclusivamente ao isso, já que pode se comunicar com o eu através do isso. O eu utiliza um “receptor acústico” para se comunicar com o mundo através da percepção e da consciência. Há um conflito constante no aparelho psíquico entre o princípio do prazer e o da realidade, que tenta manter constante o nível de excitação.
Por fim ele apresenta o fenômeno que também são conscientes e inconscientes e atuam como instâncias críticas, julgadoras, que submetem nossas ações às restrições morais e ao sentimento de culpa. Essa terceira instância, definida como supereu, demonstra que o eu não pode ser definido simplesmente como uma parte do isso modificada pelo mundo. Trata-se de uma gradação no eu, uma diferenciação, que foi inicialmente descrita como ideal do eu. Como efeito do complexo de castração o indivíduo elege novas identificações para substituir algo que perdeu (primeiras satisfações alcançadas com a nutrição, através do seio materno). Essa substituição tem função na construção do caráter do indivíduo e conformidade com as regras morais da sociedade “o caráter do ego é um precipitado de catexias objetais abandonadas e que ele contém a história dessas escolhas de objeto” (p.42). Sua primeira identificação é com o pai, como modelo do que o indivíduo quer ser.
Para explicamos esse ponto precisamos fazer uma alusão ao complexo de Édipo. No início o menino se encontra numa relação dual com a mãe, ela satisfaz suas necessidades através do seio. Porém o crescente amor pela mãe encontra o pai como obstáculo a essa união. O menino então dirige seu ódio ao pai a fim de se livrar dele, para poder ficar com a mãe. Porém essa relação não é restrita ao ódio, há uma ambivalência de afeto, sua identificação oscila entre a hostilidade e o amor.
Somente com a dissolução do Édipo a mãe é abandonado como objeto de amor e o menino se identifica com o pai como modelo. Com a saída do Édipo forma-se o supereu como herdeiro das proibições paternas, é um representante do pai.
O ideal do eu carrega as injunções e proibições e as exerce por meio da censura moral.
Sendo assim, a primeira identificação do indivíduo à algo externo a ele se relaciona ao supereu “O superego deve sua posição especial no ego, ou em relação ao ego, a um fator que deve ser considerado sob dois aspectos: por um lado, ele foi a primeira identificação, uma identificação que se efetuou enquanto o ego ainda era fraco; por outro, é o herdeiro do complexo de Édipo, e, assim, introduziu os objetos mais significativos no ego” (p.61).

sábado, 28 de agosto de 2010

“A moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna”. Em: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud

Nesse texto Freud expõe a luta entre a civilização e a satisfação pulsional.
Na nota do Editor assinala que esse assunto já foi aludido por Freud na carta à Fliess de 31 de maio de 1897, na qual ele escreve que “o incesto é anti-social e a civilização consiste na renúncia progressiva ao mesmo” e nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, em que Freud diz que: “a realização inversa que existe entre a civilização e o livre desenvolvimento da sexualidade”.
Retoma os aspectos sociológicos que foram discutidos nesse texto de 1908 em artigos posteriores como “O futuro de uma ilusão” (1927), “Por que a guerra?” (1933) e em “O mal-estar na civilização” (1930).
No início do artigo Freud distingue moral sexual normal de moral sexual civilizada para dizer que a civilização, ou a cultura, estabelecer restrições para que seja possível a vida em sociedade, o que acarreta diversos prejuízos aos indivíduos. A principal delas é o aumento da doença nervosa moderna.
Freud destaca que a origem das neuroses, expressão da doença nervosa moderna, é a repressão sexual, logo, os sintomas neuróticos são uma satisfação substitutiva da pulsão sexual recalcada.
Freud (1908, p.175) diz que a internalização da moral civilizada se dá ao longo do desenvolvimento do indivíduo com o progressivo recalque da pulsão sexual. A satisfação sexual através do auto-erotismo na infância, obtenção de prazer através do próprio corpo, é recalcada para dar lugar a satisfação genital e ao amor objetal. A moral sexual ‘civilizada’ é alcançada quando a satisfação sexual com fins reprodutiva é eleita como objetivo sexual.
Segundo Freud os neuróticos possuem uma organização "recalcitrante", pois a supressão das pulsões é apenas aparente, ou seja, o que é recalcado retorna na forma de sintomas.Os sintomas são satisfações substitutivas da pulsão recalcada.
Freud analisa que a contínua repressão sexual pelas exigências da civilização aumentará os casos de neurose, como resistência, fuga das pressões.
Ele destaca os prejuízos ou mesmo as neuroses causadas pelas restrições sexuais impostas antes do casamento, em que os jovens que são submetidos a abstinência sexual, e mesmo após este, posto que a relação sexual é concedida aos casais com fins reprodutivos. Destaca principalmente as mulheres que incitadas a preservarem sua castidade e moral, não conseguem se envolver afetivamente e eroticamente nos relacionamentos amorosos.
A neurose é definida como o retorno dos desejos ou da pulsão sexual recalcada que são hostis a civilização. Freud dá o exemplo de uma mulher se casou sem amar o marido. No esforço de amá-lo, de acordo com o ideal civilizatório, ela recalca todas suas idéias e sentimentos que vão contra ele. Mas como efeito disso surge uma doença nervosa, neurótica que lhe causa enormes prejuízos.
E, por fim, destaca que a restrição da atividade sexual causa um aumento do medo da morte e da angústia em existir. E pergunta se todo sacrifício de abrir mão da felicidade individual em prol da moral civilizada de uma comunidade vale a pena diante de tantos prejuízos causados?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Crack: Apocalipse químico

Retirado do site da ABEAD
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas

O Crack têm se disseminado rapidamente. Essa droga é sete vezes mais potente que a
cocaína e também mais cruel e mortífera. O usuário chega a viciar no primeiro uso.

Desafeiçoado. Escondido pelo escuro da noite e feliz pela ilusão da droga. É tarde, e cada esquina vira boca de fumo. O crack tomou conta. Não se tem acepção de idades. São milhares de crianças, jovens e adultos encolhidos em qualquer canto, iluminados apenas por um palito de fósforo aceso. “A gente pensa que aqui quase não tem viciados em crack. Aí é que a gente se engana. Tem crianças usando crack até na escola.” Relata Jordão Vittor, 26, morador do bairro Santa Lúzia.
O crack é a mistura de cocaína refinada com bicarbonato de sódio que resulta em grãos que são fumados em cachimbos ou latas. Seu efeito pode ser de cinco a sete vezes mais potentes que a cocaína, entretanto, também é mais cruel e mortífero. Durante 10 minutos, no máximo, o usuário sente uma sensação eufórica e excitante, seguido de depressão, delírio e a necessidade de repetição da dose, quase instantaneamente.
P. tem somente 17 anos e já é viciado há dois, atualmente, usa cerca de 60 pedras de crack por dia. Todo sujo, usa dialetos, fala alto e olha de lado, mas não é agressivo, apesar de estar sob efeito da droga.
Ele é tão novo e já sem esperanças, sem expectativa de vida, sem rumo. “Eu fico bem quando uso. Depois percebo que não tenho vida, aí fumo de novo. Se eu morrer agora, vou morrer feliz”.
Em um passado bem recente, somente pessoas desprovidas de dinheiro é que eram dependentes do crack, já que é uma droga barata, custando de 5 a 10 reais a pedra. Hoje, esse perfil mudou. Agora as classes média e alta também são escravos do crack. “Antes era só na favela, hoje você vê os ‘playboys’ comprando a pedra”, alerta P.
Segundo o psiquiatra especialista em dependência e saúde mental Paulo Soares Gontijo o crescimento exagerado do consumo se deve ao fato do custo ser baixo e da mobilidade do tráfico. “Quanto mais barato, maior o consumo. Quanto mais consumo, maior a procura por tratamento”, explica.
Apesar de ser um valor relativamente baixo, o viciado começa a vender seus pertences, fazer trocas e até furtos já que existe um interesse compulsivo em usar outras pedras. “Tem pessoas que vende até o telhado da casa para comprar droga”, diz P.
Quando não há mais esperanças de uma vida melhor, os jovens buscam no efeito momentâneo do crack, um motivo para sorrir. “A meu ver isso acontece devido à falta de oportunidade, a falta de possibilidade de que um dia a vida possa melhorar, e se essa pessoa não tiver uma vida com estrutura familiar e social bastante firme, o que acontecerá é que ela logo cairá nessa armadilha chamada crack”, disse o Delegado Regional de Barreiras Dr. Jorge Aragão ao jornal Novo Oeste.
Em Barreiras, no Oeste da Bahia, o uso do crack não está tão disseminado quanto na capital baiana, Salvador, onde o consumo aumentou 140%. Em Brasília (DF) com aumento de apreensão de pedras de crack em 175% em apenas um ano; e Goiânia (GO), onde existem 50 mil usuários, cerca de 4% da população.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Relatório Mundial sobre Drogas 2010 revela tendências de novas drogas e de novos mercados

O Relatório Mundial sobre Drogas 2010, divulgado nesta quarta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostra que o consumo de drogas está se deslocando em direção a tendências de novas drogas e de novos mercados. O cultivo de drogas está diminuindo no Afeganistão (ópio) e nos países andinos (coca), e o consumo de drogas tem se estabilizado nos países desenvolvidos. Entretanto, há sinais de aumento no consumo de drogas nos países em desenvolvimento, além de um aumento no consumo de substâncias do tipo anfetamina (ATS, na sigla em inglês) e no abuso de medicamentos sob prescrição em todo o mundo.

Redução do cultivo de ópio e de coca
O Relatório mostra que a oferta mundial dos dois tipos de drogas mais problemáticos - opiáceos e cocaína - continua em declínio. A área global de cultivo de ópio caiu quase um quarto (23%) nos últimos dois anos, e a produção de ópio deve cair drasticamente em 2010, devido a uma praga que pode destruir até um quarto da papoula do Afeganistão. O cultivo de coca, que diminuiu 28% na última década, manteve a tendência de queda em 2009. A produção mundial de cocaína diminuiu de entre 12% e 18% no período de 2007 a 2009.

O mercado de cocaína está mudando
O Relatório Mundial sobre Drogas 2010 revela que o consumo de cocaína tem diminuído significativamente nos Estados Unidos, nos últimos anos. O valor de varejo no mercado de cocaína nos Estados Unidos diminuiu cerca de dois terços na década de 1990, e cerca de um quarto na década passada. "Um dos motivos para a violência associada às drogas no México é que os carteis estão lutando por um mercado que está diminuindo", disse o Diretor Executivo do UNODC, Antonio Maria Costa. "Essa disputa interna é benéfica para a América, pois a escassez de cocaína está resultando em menores índices de dependência, preços mais elevados e menor pureza nas doses".
De certa forma, o problema atravessou o Atlântico: na última década, o número de usuários de cocaína na Europa duplicou, passando de 2 milhões, em 1998, para 4,1 milhões em 2008. Em 2008, o mercado europeu (estimado em US$ 34 bilhões) chegou a ser quase tão valioso quanto o mercado norte-americano (US$ 37 bilhões). A mudança na demanda acarretou uma mudança nas rotas de tráfico, com uma quantidade crescente de cocaína sendo traficada dos países andinos para a Europa, via África Ocidental. Isso está causando instabilidade na região. "Pessoas que consomem cocaína na Europa estão destruindo florestas nativas dos países andinos e corrompendo governos na África Ocidental", disse Costa.

Tratamento para dependentes é insuficiente
O Relatório Mundial sobre Drogas 2010 expõe uma grave falta de serviços de tratamento para usuários de drogas em todo o mundo. "Enquanto pessoas de países ricos podem pagar pelo tratamento, pessoas pobres e/ou países pobres estão enfrentando as piores consequências à saúde", alertou o chefe do UNODC. O relatório estima que, em 2008, apenas cerca de um quinto dos usuários de drogas dependentes receberam tratamento no ano passado - o que significa cerca de 20 milhões de pessoas dependentes de drogas sem receber tratamento adequado. "Já está na hora de haver acesso universal ao tratamento para as drogas", disse Costa.
Ele considera que a saúde é a peça-chave no controle de drogas. "A dependência é um problema de saúde tratável, não uma sentença morte. Os dependentes de drogas devem ser encaminhados para tratamento, não para a prisão. E o tratamento da dependência de drogas deve fazer parte dos serviços de saúde em geral".
Ele também fez um apelo por um maior respeito pelos direitos humanos. "Só porque as pessoas usam drogas ou estão atrás das grades, isso não elimina seus direitos. Faço um apelo aos países onde as pessoas são executadas por crimes relacionados com drogas, ou pior, são mortos a tiros por grupos de extermínio, para acabar com essas práticas".

Sinais de alerta nos países em desenvolvimento
Costa destacou os perigos do uso de drogas nos países em desenvolvimento. "As forças do mercado já moldaram as dimensões assimétricas da economia da droga: os maiores consumidores de drogas (os países ricos) impuseram aos países pobres (os principais locais de abastecimento e de tráfico) os maiores danos", disse Costa. "Os países pobres não estão em condições de absorver as consequências do aumento do consumo de drogas. Os países em desenvolvimento enfrentam uma crise iminente que poderá levar milhões de pessoas para o problema da dependência de drogas".
Ele citou como exemplos o crescimento do consumo de heroína na África Oriental, o aumento do uso de cocaína na África Ocidental e na América do Sul e o aumento na produção e no abuso de drogas sintéticas no Oriente Médio e no Sudeste Asiático. "Nós não vamos resolver o problema mundial da droga deslocando o consumo dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento", disse Costa.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Resenha do texto “A significação do falo” de Lacan (1958/1998)

O texto “A significação do falo” se situa no primeiro ensino de Lacan, em que predomina a lógica do significante e a relação da estrutura de linguagem à lógica do inconsciente.


Lacan se lança, principalmente na década de 50, em um retorno ao sentido de Freud, com o objetivo de desenvolver a afirmação de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, ou seja, que a fala e a linguagem ocupam lugar central na experiência psicanalítica: “o sentido de um retorno a Freud é um retorno ao sentido de Freud” (1955/1998: 406).

Para tal, ele procura estabelecer a relação entre o Édipo e o simbólico, tal como ele nos apresenta no texto “A significação do falo”. Ali ele destaca que “o complexo de castração inconsciente tem uma função de nó“ (1958/1998: 692), ou seja, que é a partir do complexo de castração, ao operar uma função de lei, que o sujeito é inscrito na ordem simbólica, enquanto dividido, desejante. Da mesma forma, sob a barra da castração e do recalque, o sujeito se inscreve na ordem fálica, que exerce a função de regulação do gozo sexual.

Contudo, a apreensão do falo enquanto significante requer um passagem do sujeito do campo da demanda para o campo do desejo. E como isso acontece?

Lacan (1958/1998: 697-698) nos explica que: a) a demanda é algo distinto da satisfação por que clama, b) ela é demanda de uma presença e ausência, c) suas características são elididas na noção de frustração.

Assim, recorrendo ao O seminário, livro 4: as relações de objeto, destacamos a definição do conceito de frustração: “é considerada como um conjunto de impressões reais, vividas pelo sujeito num período de desenvolvimento em que sua relação com o objeto real está centrada habitualmente na imago dita primordial do seio materno” (Lacan, 1956-57/1998: 62). Ou seja, a frustração ocorre quando o objeto real – o seio – ou a mãe se ausentam. Quando a mãe não responde mais ao apelo da criança ela sai da estruturação e se torna real, se torna uma potência. Dessa forma, ocorre uma inversão da posição de objeto: o que até então eram objetos de satisfação tornam-se, por parte da potência materna, objeto de dom.

A transformação do objeto em simbólico, ou seja, a assunção do falo enquanto significante, requer que o sujeito se depare, para além da frustração com a mãe, com “um outro desejo”, que é o desejo do Pai: “é através do Édipo que o desejo genital é assumido e vem tomar lugar na economia subjetiva” (Lacan, 1957-58/1998: 371). É, portanto, por intermédio do desejo do Pai, e do significante falo, que se introduz o para-além da relação com a fala do Outro materno, ou seja, para além da demanda.

Assim, em relação à frustração, o pai proíbe a mãe – objeto real – ao filho, na medida em que intervém sobre essa relação incestuosa. No nível da privação, o pai é o objeto preferido em relação à mãe, desta forma o menino o elege como modelo, como ideal do eu, como aquele com quem passa a se identificar. E no que diz respeito à castração, trata-se de uma intervenção do pai real como uma ameaça imaginária sobre um falo imaginário, que ainda não alçou o valor simbólico, significante.

A passagem do campo da demanda para o campo do desejo é explicada de modo detalhado por Lacan (1957-58/1998: 197-203) quando ele apresenta os três tempos do complexo de Édipo. O primeiro tempo, da demanda, é caracterizado pela relação dual, imaginária, entre a criança e a mãe, em que a criança tem a ilusão de complementaridade com o corpo da mãe. Do mesmo modo, a criança se identifica de forma especular com o falo imaginário – objeto de desejo materno –, ela é o falo que falta à mãe. Nessa primeira fase do complexo de Édipo o pai se encontra de fora dessa tríade.

No segundo tempo do complexo de Édipo, o Pai intervém no desejo da mãe através da proibição do incesto, ele age como o agente da castração, numa presença privadora, como suporte da lei. É a palavra do Pai, que retira a criança do lugar de objeto, e a liga à vida e aos objetos do mundo.

No terceiro tempo, ocorre o declínio do Édipo, no qual a criança, através da continuidade da incidência do Pai na díade imaginária com a mãe, se posiciona diante do falo e encontra no Pai o suporte identificatório, na medida em que ele tem o falo que a mãe deseja. O menino sai, então, da posição de ser o falo da mãe para a posição de ter um falo (ibidem, p. 200).

Segundo Lacan o que está em jogo no declínio do Édipo é que a criança assuma o falo como significante, que saia da posição de engodo imaginário com a mãe. A saída de sua posição de objeto de desejo do outro materno só é possível com a entrada do Pai interditando a relação incestuosa. Desta forma, a criança vai perceber que existe algo mais-além da mãe, já que é o Pai quem tem aquilo que falta à mãe e que ela deseja: o falo (ibidem, p. 206). Como efeito da dissolução do complexo, a criança identifica-se ao Pai, ao mesmo tempo em que começa a se formar o supereu como instância reguladora das satisfações pulsionais.
Os conceitos apresentados e desenvolvidos acima colocam pontos importantes em relação ao manejo transferencial na clínica psicanalítica, tal como o cuidado para não obstruir a emergência do desejo do paciente face a satisfação de suas demandas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LACAN, J. (1955) “A Coisa freudiana”. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

_________. (1956-57) O Seminário, livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.

_________. (1957-58) O Seminário, livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

_________. (1958) “A significação do falo”. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

GOZO SADIANO OU GOZO IMPOSSÍVEL: CONTRIBUIÇÕES PARA A ÉTICA DA PSICANÁLISE

Em Kant com Sade, Lacan (1962) retoma Sade para apontar que ele faz aparecer a verdade escondida em Kant: que o sujeito não é UM, e sim dividido. O grafo do fantasma sadiano demonstra uma “divisão contínua do sujeito que é ordenada pela experiência” (ibidem, p. 785) e não mais pela razão pura, assim como defendia Kant.

Sade apresenta essa divisão através da dialética entre a vítima e o carrasco. Ao defender que é a vítima que atribui o gozo ao Outro ele assinala que há algo mais além da lei e do desejo que determinam essa relação: o gozo. O gozo nesse momento do ensino de Lacan surge como gozo real, impossível, que só é alcançado através da transgressão, assim como o faz Sade. Segundo Sade as vontades do sujeito não correspondem a um bem universal, e o imperativo superegóico não é mais de proibição. A máxima sadiana promove o imperativo do gozo “Tenho o direito de gozar de teu corpo, pode dizer-me qualquer um, e exercerei esse direito, sem que nenhum limite me detenha no capricho das extorsões que me dê gosto de nele saciar” (ibidem, p. 780).

Com o objetivo de esclarecer a relação entre o desejo, a lei e o gozo, Lacan (1959-60: 237) em O seminário, Livro 7: A ética da psicanálise, retoma o mandamento “amarás ao próximo como a ti mesmo”. Esse mandamento nos remete aos fenômenos caracterizados como “estranhos”: uma distância íntima entre o sujeito e o Outro, que faz com que o Outro se apresente em duas faces – assim como nos elucida Julien (1996) –uma feita a nossa imagem e semelhança, e outra face que está além do semelhante, que compreende o real da Coisa, das Ding. Podemos incluir essa segunda face na dimensão do mais-além do princípio do prazer, de algo que não está subordinado à lei do bem, mas sim ao enigma do gozo do Outro. Cumprir esse mandamento é impossível, pois amar ao próximo é se aproximar do que nos é mais estranho, mas ao mesmo tempo mais próximo, ou seja, cumprir esse mandamento é se aproximar do gozo. Desse modo, o recuo diante do mandamento “amarás ao próximo como a ti mesmo”, é o mesmo diante do gozo. O sujeito recua, portanto, diante da imagem do outro que carrega um furo, do outro castrado que o remete a sua própria castração.

O termo freudiano das Ding – A Coisa – significa o objeto que está para sempre perdido e por isso mesmo marcado pela eterna busca de reencontrá-lo. Esse movimento, ligado à busca da coisa perdida que falta no lugar do Outro, é causa de sofrimento, que nunca erradica por completo a busca do gozo. Ao considerar das Ding como gozo real, fora do sistema, afirma, portanto, que só temos acesso a este através de um forçamento, por via da transgressão à Lei. O gozo de Sade seria a expressão dessa transgressão, na medida em que ele tenta permanentemente ultrapassar os limites do princípio de prazer, transgredir a lei, transgredir “todos os limites humanos” (ibidem, p. 245).

Miller (2000: 91) em Os seis paradigmas do gozo equivale o gozo real, impossível, ao gozo sadiano, trata-se de uma satisfação verdadeira, que não se encontra no registro simbólico ou no imaginário, posto que é da ordem do real. Segundo ele, se a Lei moral de Kant é um enunciado simbólico que comporta a anulação de todo o gozo em prol de um bem universal, Sade é aquele que fala de uma satisfação que está mais além do princípio do prazer e mais além do simbólico, fora de todo significante e do significado.

Essas pontuações oferecem contribuições importantes para pensarmos a Ética da Psicanálise, assim como Lacan pontua no capítulo “o gozo da transgressão” do seminário A ética da psicanálise. Podemos aqui tentar pensar com Lacan: como a clínica psicanalítica pode se servir da proposta de Sade?

Essa é uma discussão que merece ser levada a frente, pois não é raro vermos em nosso campo profissionais que desconsideram a dimensão do real e do gozo presentes na clínica. A psicanálise nos ensina que não podemos nos basear em universais do bem como guia de tratamento na experiência analítica; contrária a universalização a psicanálise propõe a singularidade, e considera que os objetos se tornam desejáveis de acordo como cada um se serve da fantasia.

Aqui uma citação de Lacan nos ajuda e nos instiga a continuar essa discussão:

O que o analista tem a dar, contrariamente ao parceiro do amor, é o que a mais linda noiva do mundo não pode ultrapassar, ou seja, o que ele tem. E o que ele tem nada mais é do que seu desejo, como o analisado, com a diferença de que é um desejo prevenido. O que pode ser, propriamente falando, o desejo do analista? Desde já, podemos no entanto dizer o que ele não pode ser. Ele não pode desejar o impossível (Lacan, 1959-60: 360)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

JULIEN, Philippe (1996). O estranho gozo do próximo: ética e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
LACAN, J. (1959-60). O seminário, Livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
_________ (1962). “Kant com Sade”. in Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
MILLER, J-A (2000). Os seis paradoxos do Gozo. In La cause freudiene nº43.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

PONTUAÇÕES SOBRE A COMPULSÃO À REPETIÇÃO NO CASO “O HOMEM DOS RATOS”

O caso do “Homem dos Ratos” publicado por Freud em 1909 nos oferece importantes contribuições para a definição psicanalítica da neurose obsessiva. No caso trabalhado pelo autor, fica evidente o quanto a dúvida e dívida do neurótico obsessivo têm uma relação direta com o pai.
Segundo Freud (1924), o pai edipiano permanece como um ideal e continua a exercer sua autoridade através do supereu. Porém na neurose obsessiva o sujeito se fixa de tal modo no pai ideal, que o supereu retorna de um modo feroz: exige a renúncia do gozo causando inibição, impulsos compulsivos, proibições e atos obsessivos.
No caso do “Homem dos Ratos” a figura paterna era tão forte que ele falava do pai como se ainda fosse vivo. A identificação com o pai como fracassado tornava suas dívidas impossíveis de serem pagas, como foi o caso do pince-nez (Freud, 1909: 149). Ao ser tão devedor como o pai o “Homem dos Ratos” evitava superá-lo.
A compulsão à repetição que passa a ser marcante na vida do “Homem dos Ratos” nos remete ao ponto que não pode ser enunciado e que retorna: o impedimento de superar o pai, pois se isso acontecesse o pai perderia seu valor de ideal.
Diante da dívida impossível de pagar, a história se reduplica e o “Homem dos Ratos” reatualiza a dívida do pai e faz de tudo para não conseguir pagá-la. Diferente da histérica, o recalque no obsessivo é mal-sucedido, por isso ele repete num ponto de real.
Lacan (1964) em O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise define o conceito de compulsão à repetição como um encontro com o real. O real é aquilo que “retorna sempre ao mesmo lugar, a esse lugar onde o sujeito não o encontra” (ibidem, p. 52), ou seja, o real é isso que não cessa de não se inscrever, é esse ponto onde o inassimilável se produz.
A compulsão à repetição aponta um mais além do princípio do prazer. Freud (1900-1901) evidencia essa relação por meio da análise que faz de um sonho. Nesse sonho um pai, que deveria velar o filho morto, deixa um velho vigiando o corpo do menino e vai descansar num quarto ao lado. Em algum momento o pai adormece e sonha que o filho está de pé ao seu lado e lhe diz “Pai, não vês que estou queimando?”. Nesse momento o pai desperta e vê que realmente o corpo do filho estava queimando por conta de uma vela que caíra sobre ele enquanto o velho que o vigiava dormira. Esse sonho corrobora com a tese de que o sonho é uma realização de desejo – porque além do filho estar vivo no sonho o pai também realiza o desejo de continuar dormindo –, porém aponta um novo elemento, algo mais além do princípio do prazer.
Deste modo, o caráter de compulsão à repetição presente nesse sonho cria um entrave à oposição entre princípio do prazer/princípio de realidade. Tal impasse, retomado por Freud em textos posteriores, culminou na formulação de um novo dualismo pulsional entre a pulsão de vida à pulsão de morte. Na medida em que a pulsão de morte é incluída no aparelho psíquico a repetição deixa de ser uma “recordação” ou um retorno às experiências traumáticas para ser uma tentativa de vincular a energia que permaneceu não ligada.
Lacan (1964: 56) em O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise retoma a questão da repetição para assinalar que ela pode se apresentar de dois modos: através do autômaton e da tiquê. O autômaton é o retorno, a insistência dos signos comandada pelo princípio do prazer. Há também na repetição a função da tiquê: encontro com faltoso, traumático, com o real, que comporta algo de inassimilável.
Ainda nesse Seminário Lacan (ibidem, p. 59) retoma o sonho de “Pai não vês que estou queimando?” para dizer que um ruído, talvez das velas queimando, chamou o pai ao real. Assinala a presença de uma realidade faltosa, que teria causado a morte da criança por febre, e para o remorso do pai por ter deixado o corpo do filho sendo velado por um velho que talvez não desse conta da tarefa. O “pecado do pai” foi não estar à altura de sua função de velar o filho morto:

O filho morto, pegando o pai pelo braço, visão atroz, designa um mais-além que se faz ouvir no sonho. O desejo aí se presentifica pela perda imajada ao ponto mais cruel, do objeto. É no sonho somente que se pode dar a esse encontro verdadeiramente único. Só um rito, um ato sempre repetido, pode comemorar esse encontro imemorável (Ibidem: 60).

O fenômeno da compulsão à repetição tão presente na análise de obsessivos nos aponta para algo a ser trabalhado aí, pois o ponto de real que insiste clama pela elaboração, na tentativa de dar sentido a algo que permanece enigmático. Se o obsessivo recobre seu desejo pela demanda – na medida em que faz de tudo para ser completo, e também para fazer do Outro completo – ao tentar preencher o furo que lhe é constituinte, a análise aponta para a falta, para a emergência do desejo e para a construção de um saber-fazer aí com esse ponto de real que persiste em retornar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. (1900-1901). “A interpretação dos sonhos”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. XIII . Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_______________. (1909). “Notas sobre um caso de neurose obsessiva”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. X. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_______________ (1924). “A dissolução do complexo de Édipo”. in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: ESB, vol. XIX, op. cit.
LACAN, J. (1964). O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979.

A FUNÇÃO DO PAI NO CASO DO PEQUENO HANS

Para discorrermos sobre a função do pai no caso Hans partiremos do caso Hans (1909), associado à leitura dos “três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905) e textos que assinalem a questão do complexo de Édipo.
Inicialmente Hans se encontra no que Lacan define como “paraíso” com a mãe, relação dual, imaginária, a ilusão de complementaridade com o corpo da mãe. Nessa relação a criança é objeto de desejo da mãe, é o falo que falta a ela.
Porém há um momento em que se rompe essa relação dual: o encontro com o traumático, o real que faz furo no imaginário. As experiências traumáticas são o nascimento da irmã e as experiências masturbatórias. Elas furam a relação de engodo imaginário, pois defrontam Hans com algo externo ao paraíso, o que acontece quando seu próprio pênis começa a se tornar real, falo como um órgão fora do corpo, e o nascimento da irmã que rompe sua relação de unicidade com a mãe.
A partir desse momento Hans elege um objeto à condição de significante para dar conta da falta simbólica. O objeto fóbico (Cavalo) é uma proteção contra angústia que advém de sua relação com a mãe.
No capítulo IV de “Inibição, sintoma e angústia” (1926), Freud define a fobia como um sintoma substituto para algo que foi recalcado (impulso hostil contra o pai). A fobia de Hans “eliminou os dois principais impulsos do complexo edipiano – sua agressividade para com o pai e seu excesso de afeição pela mãe” (Freud, 1926: 109).
Vale destacar que se para Freud o objeto fóbico “cavalo” aparece como substituto do pai, Lacan dá ao cavalo e aos outros elementos da fantasia não uma função metafórica e sim metonímica, de deslizamento, por exemplo, o cavalo que representa num primeiro momento a mãe, por último o pai e ainda o pequeno Hans.
Segundo Freud (1909: 47), a angústia de Hans possui dois componentes: o medo de seu pai e medo por seu pai: “O primeiro derivava de sua hostilidade para com seu pai, e o outro derivava do conflito entre sua afeição, exagerada a esse ponto por um mecanismo de compensação, e sua hostilidade”. Assim, ele tinha tanto medo que o cavalo o mordesse (que o pai o castrasse), como que o cavalo caísse (morte do pai).
Podemos aqui pensar que a construção fóbica de Hans está estritamente relacionada com a função paterna e que, portanto, é essa função exercida pelo pai que encaminha a solução da fobia. A fobia é uma solução à deficiência paterna através da eleição de um objeto que alça o valor de significante e assim funciona como suplência que sustenta a função do pai real.
A fobia surge, como nos ensina Lacan, por causa da carência do pai real, é porque o pai não funciona como agente da castração que Hans não pode sair da posição Edípica (amor pela mãe e ódio pelo pai). Uma fantasia que ilustra o Édipo de Hans é aquela em que há duas girafas, uma girafa grande e outra amassada, representando o órgão genital da mãe. Na fantasia ele se senta na girafa grande, que representaria seu pai, e com isso ele tomaria posse da mãe.
Lacan analisa que mesmo Hans tendo tomado posse da mãe na fantasia, o pai não reage com raiva. Hans chega a dizer “você deve estar com raiva, você deve estar com ciúmes” (Lacan, 1956-57: 269), mas o pai não reage diante do Édipo apresentado pelo filho.
A fobia se deve, então, a carência do pai real. Segundo Lacan, Hans, filho único, nadava em felicidade. A mãe o cercava de carinhos, tudo lhe era permitido (inclusive ficar no leito dos pais) e o pai não tinha o controle da situação, não apresentava nenhuma ameaça de castração ao pequeno Hans (Lacan, 1956-57: 227). Hans não é frustrado em nada, não é privado pelo pai de seus prazeres: “vemos ao longo de toda a observação o pequeno Hans reagir à intervenção do pai real. Sua colocação na estufa, sob o fogo cruzado da interrogação paterna, mostra ter sido favorável nele a uma verdadeira cultura da fobia” (ibidem, p. 263). Lacan assinala que a fobia de Hans foi intensificada pela ação do pai.
A posição do pai simbólico, como nos diz Lacan, permanece velada, na medida em que ocupa a posição de pai imaginário ao tentar diminuir a culpa de Hans, explicando que sua fobia é uma bobagem, que ele pode olhar os cavalos, que o falo desejado (na mãe) não existe etc.
Lacan assinala que na verdade quem exerce o papel de Pai para Hans é Freud, o “pai superior”, aquele “a quem a palavra se revela como testemunho da verdade”. O pai de Hans diante de seu não-saber o que é ser um pai o demanda a Freud e a partir daí é o professor quem traça o encaminhamento da solução da fobia do menino através das orientações dada ao pai.
Podemos dizer que através da construção de fantasias é que Hans consegue dar conta da castração. Com a fantasia de que um bombeiro “lhe dava um pipi maior” ele supera o medo da castração e soluciona a fobia. O bombeiro que lhe desparafusa, coloca a dimensão do objeto como removível, objeto de troca situado fora do corpo. Com isso o falo se torna significante, aparelhado de uma mobilidade simbólica.

domingo, 27 de junho de 2010

Divulgando a XX Jornadas Clínicas EBP-RJ/ICP, que vai acontecer nos dias 10 e 11 de setembro de 2010.


Um apego singular: a transferência e suas surpresas
"Freud serviu a Eros para se servir dele” (J. Lacan)

No princípio era o amor – é assim que Jacques Lacan circunscreve o ponto de
origem da psicanálise. O apego de Anna O. a Breuer emergiu como um amor apaixonado, surpreendendo aos dois. E ali onde Breuer recuou, Freud seguiu adiante, tentando delinear a singularidade do apego na análise. Concluindo que é impossível enfrentar um inimigo in absentia ou in effigie, Freud propõe que, naquele mesmo ponto em que incide como obstáculo que interrompe as associações e impulsiona o sujeito a repetir, a transferência pode se tornar o motor do tratamento.Lacan sublinha que a transferência não é só repetição e, mais, que a repetição nunca é do mesmo. Coloca ênfase no manejo da transferência pelo analista, na posição da qual ele opera, que o faz escutar e recolher, da aparente repetição, a surpresa. É a presença do analista que está em jogo. E, como indica Jacques-Alain Miller, esta presença fará com que o apego ao analista se transforme em apego à análise e, ainda, em apego ao inconsciente, satisfação no processo associativo. Este inconsciente transferencial, estabelecido no trabalho analítico, deve por fim revelar o gozo implícito nesse falar, ponto em que se descortina a possibilidade de viver o inconsciente no real de sua contingência.Quais então os destinos do apego? No final da análise, o que ocorre com a transferência? Quais as conseqüências dos tropeços, dos encontros com o real? Que efeitos de surpresa podem ocorrer, a partir do apego transferencial, nas experiências da vida cotidiana? São estas, dentre outras, as questões que convidamos a todos a virem debater nas XX Jornadas.

Comissão científica

domingo, 13 de junho de 2010

A epidemia do uso de crack

Epidemia de crack está fora de controle, adverte especialista

Aluizio Freire Do G1 RJ
Um fotógrafo profissional de 40 anos, depois de passar noites vagando pelas ruas, evitando as pessoas, não resistiu aos apelos do vício e entregou sua câmera Canon de última geração, avaliada em mais de R$ 20 mil, nas mãos de um traficante. Em troca, pediu 30 pedras de crack. Duas meninas, uma de 8 e outra de 12 anos, satisfaziam todos os desejos sexuais de "craqueiros", em uma praça do Rio, para ter a droga. Embora os efeitos devastadores do crack sejam conhecidos, nem mesmo os especialistas mais experientes possuem uma receita eficaz para tratar os usuários dessa droga.
“Calcula-se que hoje pelo menos 1, 2 milhão de pessoas usem crack no Brasil. A maioria jovens. A gente não está falando de usuários de uma droga. A gente está falando de uma geração. Acho que estamos despreparados. Estamos de calças curtas. A gente não sabe como lidar com isso”, reconhece a psiquiatra Maria Thereza Aquino, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que durante 25 anos dirigiu o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad).
Os dramas dos personagens acima foram relatados a profissionais do Nepad, instituição que capacita professores, desenvolve pesquisas e oferece atendimento psicanalítico e terapêutico aos usuários. “Eu, honestamente, de todos os pacientes de crack que atendi, perto de 200, de 2008 a 2010, só recuperei um”, admite a psiquiatra.
Quanto ao aumento do número de usuários no Brasil, que já contabilizaria mais de 1 milhão de pessoas, Maria Thereza se refere ao estudo apresentado no início do mês passado pelo psiquiatra Pablo Roig, especialista no tratamento de dependentes da droga, durante o lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate ao Crack, na Câmara dos Deputados.
"O crack tem uma extensão assustadora. Existe uma sensação de descontrole, de perda da situação", afirma Pedro Lima, da Secretaria municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.
“É uma coisa que assusta muito a gente. O problema é que quase ninguém sabe como lidar com isso”, emenda a gerente de projetos da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Suelen da Silva Sales, ao anunciar a formação de 900 policiais (militares, civis e peritos) que vão atuar nas fronteiras do país para evitar a entrada de drogas como cocaína e pasta base usadas na produção do crack.
“O crack apresentou nos últimos 5 anos um fato novo em relação aos desafios no campo da saúde. As respostas têm sido heterogêneas, atrapalhadas, precipitadas. É preciso serenidade, pois estamos diante de uma experiência trágica. É uma situação social de extrema gravidade”, alerta o coordenador da área de saúde mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado.
Na semana passada, durante dois dias, um grupo de especialistas, incluindo Pedro Lima, Suelen Sales e Pedro Gabriel, se reuniu na sede da organização não governamental Viva Rio para definir estratégias e formular um documento com orientações de como tratar o problema do crack. As recomendações serão entregue a equipes do Programa de Saúde da Família.
De acordo com os especialistas, de todas as drogas o crack é a mais perversa. Por ser inalada, atinge diretamente o pulmão e o cérebro em cerca de oito segundos. Como o efeito é rápido, o usuário quer consumir cada vez mais, para manter a sensação de prazer constante. Com a frequência, o usuário se torna dependente em menos de cinco vezes de utilização. As últimas pesquisas sobre a droga mostram que em geral 30% dos usuários de crack morrem nos primeiros 5 anos de uso.
“Quem usa crack está sob a ação de uma cocaína quase 80 vezes mais poderosa do que a cocaína comum”, atesta Maria Thereza Aquino.
“O indivíduo algum tempo depois, três meses depois do uso, começa a ter tosse sanguinolenta, o nariz não para de escorrer, começa a decompor a musculatura, fica com uma magreza só comparável à magreza da Aids. Ele fica frágil, o pulmão arrebentado, o cérebro também sofre pequenas hemorragias. Então, o sujeito pode ter um comportamento errático. O que você consegue perceber no usuário de crack é uma espécie de indigência mental e física muito grande”, analisa a psiquiatra.

quarta-feira, 26 de maio de 2010




O Seminário Internacional sobre O saber na psicose com Jean-Luc Gaspard, vai acontecer no dia 1 de junho às 15:00h na sala 2 do Instituto de Psicologia da UFRJ, que fica no campus da Praia Vermelha. A entrada é gratuita!

quarta-feira, 19 de maio de 2010









Divulgando o XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano da EBP - Escola Brasileira de Psicanálise.



O sintoma na clínica do delírio generalizado


“Chamo delírio uma montagem de linguagem que não tem correlato de realidade, ou seja, a que nada corresponde na intuição. Chamo delírio uma montagem de linguagem construída sobre um vazio. E digo: todo mundo delira. Essa é a perspectiva que chamo de delírio generalizado.” (MILLER, A psicose no texto de Lacan. Curinga, n.13, p .95)



“O sintoma na clínica do delírio generalizado” é o título do XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que acontecerá em São Paulo, nos dias 19, 20 e 21 de novembro de 2010. Esse Encontro se inscreve na série de um trabalho profícuo que vem sendo desenvolvido em todo o Campo Freudiano e na Associação Mundial de Psicanálise, no qual o sintoma é o ponto nodal da discussão.
O sintoma, em seu cerne, é um modo de gozo, uma satisfação que vem substituir aquela concernente à relação sexual, se ela existisse. A inexistência da relação sexual implica, portanto, que toda construção sintomática se baseia em um momento fundador do sujeito, no qual algo fica de fora, expulso, foracluído de qualquer possibilidade de simbolização. Nesse sentido, o sintoma é uma solução substitutiva, que diz respeito à forma contingente que a inexistência da relação sexual toma para cada um, ou seja, o sintoma é uma maneira singular, única, que cada sujeito inventa para abordar o real, é o que faz a diferença. A experiência analítica visa à extração dessa diferença absoluta que, para além de toda articulação simbólica, de toda ficção a ser construída no decorrer de uma análise, permanece como um resto incurável a partir do qual o sujeito poderá fazer de sua singularidade algo inédito.
No XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, dedicado ao sintoma na clínica do delírio generalizado, esperamos poder recolher, discutir e elaborar as diversas formas de ancoragens diante do real que o sintoma possibilita. Cinco eixos nortearão a abordagem desse tema em nosso Encontro:
1) Delírio e sintoma nas psicoses
2) O delírio generalizado na clínica da neurose
3) Os destinos do sintoma no tratamento analítico
4) Manifestações contemporâneas do delírio generalizado
5) Incidências da clínica do delírio generalizado na formação dos analistas


Referência Bibliográfica Básica
FREUD, Sigmund. A perda da realidade na neurose e na psicose (1924). In: Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 229-234.
LACAN, Jacques. Transfert à Saint Denis? Ornicar?, n. 17-18, 1979, p. 278. LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23: o sinthoma (1975-1976). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
MILLER, Jacques-Alain. Clínica irônica (1993). In: Matemas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 190-200.
MILLER, Jacques-Alain. Curso da Orientação Lacaniana “Coisas de Fineza em Psicanálise”, aulas XVIII, XIX e XX.
MILLER, Jacques-Alain. Orientation Lacanienne III, 10: Tout le monde est fou. Paris, 2007-2008, lições XVI, XVII, XVIII.
LAURENT, Éric. O delírio de normalidade (2008). In: VIEIRA, Marcus André e MANDIL, Ram (orgs.). A clínica analítica hoje: o sintoma e o laço social. IV Encontro Americano de Psicanálise Aplicada da Orientação Lacaniana. Buenos Aires: Grama Ediciones, 2009, p. 23-33.


Rômulo Ferreira da SilvaSimone Souto

terça-feira, 4 de maio de 2010

IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental




A Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental – AUPPF e o Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná – UFPR convidam os interessados a participarem do IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, que será realizado de 4 a 7 de setembro de 2010, na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, PR, Brasil.


O Congresso tem como tema geral “O amor e seus transtornos” e, como suas edições anteriores, é uma grande oportunidade para a apresentação de trabalhos de psicopatologia que levem em conta a subjetividade.

sábado, 24 de abril de 2010

Assisti o filme "O solista", muito bom por sinal. Interessa a todo o pública, mas especialmente aos trabalhadores e usuários de saúde mental.

Trata-se do personagem Nathaniel que desde a infância mostra interesse pela música, que parece de alguma forma confortá-lo diante das vivências alucinatórias.
As vozes que o atormentam tem conteúdo pejorativo, o menosprezam. Isto faz com que ele não consiga tocar diante de uma platéia, que desencadeia nele um sentimento de que está sendo perseguido ou que alguém que lhe fazer mal.
Num certo dia quando a mãe vai até o porão, onde ele se esconde dos outros para tocar violoncelo, o que já evidencia um dos sintomas negativos da esquizofrenia, ele pensa que a sopa que ela está trazendo está envenenada. A partir daí vai viver nas ruas.
Reconhece a rua como seu território, ali não se sente invadido, toca para "as pombas aplaudirem" e cuida de manter seu "lar", um túnel, limpo, muitas vezes se colcando em risco para tal.
Leva sua vida ignorado pelos que passam, até que um jornalista do LA Times o encontra e, tocado pela música daquele desconhecido sem-teto, se interessa por sua história. Ao se apresentar não como um outro absoluto, invasivo, e sim como alguém que se coloca na função de ajudá-lo, secretariá-lo, consegue fazer com que Nathaniel lide melhor com sua condição subjetiva.

segunda-feira, 19 de abril de 2010



Será realizado na UERJ o II Congresso Brasileiro de Saúde Mental dia 03 a 05 de junho de 2010. Estão abertas as inscrições de no congresso e também as inscrições de trabalho.

Acredito que vai ser um espaço bem legal de discussão e construção na área da saúde mental, acerca das práticas, cuidados e fazeres, política pública de saúde mental, e questões sociais e culturais que envolvam os usuários e técnicos dos serviços.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Divulgo uma entrevista muito interessante que Jacques-Alain Miller deu a revista Le Point, sobre o filme Avatar, que foi sucesso de bilheteria em diversos países.

Jacques-Alain Miller, é psicanalista em Paris e dirige o Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII, na França. Fundou a Associação Mundial de Psicanálise (AMP) e foi seu primeiro delegado geral. É o responsável pelo estabelecimento de texto dos Seminários e outros artigos de Lacan.



Publicada em 25/02/2010 N°1953 Le Point


ENTREVISTA COM Jacques-Alain Miller

«Seu olho é capturado enquanto sua cabeça é posta para dormir»
Entrevista feita por Christophe Labbé e Olivia Recasens


Le Point : « Avatar » é um sucesso planetário. O que fez com que a humanidade inteira fosse ver esse filme?
Jacques-Alain Miller : Sua debilidade. Este efeito de debilidade é habilmente obtido cindindo pensamento e percepção. O cenário é um pot-pourri de mitos imemoráveis, de arquétipos banais e clichês New Age, feitos para dar, a todo momento, uma impressão de déjà-vu. Resultado: o senso crítico é adormecido, paralisado, o pensamento retorna facilmente a sua rotina. No entanto, em termos de imagem, é a festa, o jogo do artifício, do jamais-vu. O elemento simbólico do filme é tão arcaico quanto sua imaginação é futurista. A tecnologia se apoia no braço da mitologia, a parceria é irresistível
Adolescentes ficam orgulhosos em dizer que já viram «Avatar», 2, 3, 5, 10 vezes...
Seu olho é capturado, super excitado, e ele goza, portanto, mais intensamente, de modo que sua cabeça é adormecida. Quando o gozo do olho é tão intenso, ele se torna aditivo. Encontra-se aqui, a mesma síndrome que foi isolada com os vídeo games ou com a Internet. A humanidade está envolvida, abandonada a essa nova bebida.
Como o Sr. explica isso?
A debilidade mental do ser humano tende, precisamente, a isso que ele vê sempre, sob dois planos, ao mesmo tempo, real e imaginário, ser e dever-ser: ele sonha sua vida com os olhos abertos. Este dado antropológico, as novas tecnologias se apoderam para manipular seu sonho, acordado, com uma precisão e uma habilidade, até aqui, inéditas. Isto é apenas um começo.
O cinema tem sempre ofertado identificações ao espectador.
«Avatar» explora um além do cinema. Não se trata apenas de identificação, sempre pontual, baseada num traço singular, mas de uma imersão psicossomática em um universo. O cenário exibe também a mola: a alma do herói tetraplégico desliza em outro corpo para dar cambalhotas em outro mundo, enquanto o espectador se aloja arriado em sua cadeira.
É esse o filme que nossa época espera?
Seu sucesso mostra que a humanidade acaba de se desgostar da espécie humana. Não estamos mais no «mal estar na civilização» denunciado por Freud, mas claramente, num impasse crescente. O salve-se quem puder é geral. Num momento em que a globalização do capitalismo exacerba o individualismo, a competição, o cada um por si, como foi dito, que cerca de auréola, de uma docilidade imaginária, a natureza, a animalidade. Aspira-se um comunismo primitivo autoritário, sob a forma de um tribalismo quase vegetal.
Os neoconservadores americanos são, com efeito, hostis ao filme. Mas, o Vaticano também.
Porque «Avatar» é o toque de clarim de uma ressurreição pagã. Estes longos corpos azuis, sinuosos e sensuais, é uma entrada sedutora na era da pós-humanidade. O homem deseja tornar-se um produto de síntese. Amanhã, a engenharia biológica, o gênio genético farão desse sonho, realidade, e pesadelo.
Por que o azul?
É a cor do «supremo Clarim, pleno de sons estridentes estranhos, silêncios atravessando Mundos e Anjos», de que fala Rimbaud. A noite de Pierre Soulages lhe reenvia a sua dor de existir; o azul de «Avatar», sua luxúria sensorial, lhe anestesia. A escolha é límpida.
Tradução: Mª Cristina Maia



terça-feira, 6 de abril de 2010

A psicanálise e os "novos sintomas"

Apesar de ser um tema muito discutido na atualidade, as toxicomanias permanecem como um desafio para a clínica psicanalítica porque expressam uma formação sintomática diferente daquela submetida ao inconsciente. Estamos inclinados a considerá-las um fenômeno que deixa em suspenso o sintoma e produz uma ruptura nas estruturas de ficção de verdade e do real, por conta do curto-circuito pulsional que a droga opera.
Deste modo, a toxicomania é considerada, na atualidade, como a forma princeps dos “novos sintomas”, e acarreta para os analistas e profissionais de saúde uma dificuldade no diagnóstico diferencial, na medida em que as estruturas clínicas são mascaradas pelo objeto-droga e o toxicômano apresenta resistência ao tratamento clínico, como efeito de uma falta de demanda e dificuldade de estabelecimento da relação transferencial.
Miller[1] retoma o texto “Inibição, sintoma e angústia” no Seminário intitulado "O parceiro-sintoma". Ele se esforça em definir a categoria de sintoma no ensino de Lacan e o situa em relação ao simbólico, ao imaginário e ao real. O autor localiza quatro momentos distintos de formulação do sintoma. Se no primeiro ensino de Lacan, o sintoma era considerado, de maneira similar a Freud, como uma formação do inconsciente, o sintoma passa a ser considerado, num segundo momento, ao lado do real, não mais como uma formação de compromisso, e sim de ruptura com os semblantes. O sintoma pode ainda ser um mediador entre semblante e o real ou entrar como o quarto elemento na série imaginário, simbólico e real, como o que faz amarração dos três registros.
Deste modo, percebemos uma mudança fundamental em relação à definição clássica do sintoma freudiano, que defendia como chave do sintoma a castração, pois Lacan define o sintoma como modo de gozo, como um meio da pulsão expressar a impossibilidade de sua satisfação plena, impossível de se decifrar.
A toxicomania se inclui nos “novos sintomas”, já que se apresenta de uma nova forma, não mais como retorno do recalcado, mas como uma ruptura com o que Lacan definiu como discurso do mestre, equivalente ao discurso do inconsciente. O imperativo do discurso da ciência e do capitalismo, na atualidade, precipita o surgimento de “novos sintomas”, que não obedecem, em sua essência, a definição do que representa, classicamente, um sintoma analítico. São os objetos produzidos pelo discurso da ciência e do capitalismo, e não mais o Outro, que assumem o lugar de ideal para o sujeito.
Esse panorama, acerca das diferentes funções da droga para os sujeitos, nos coloca as dificuldades na direção do tratamento, que apontam tanto para um trabalho de restituição do Outro, como para o esforço clínico de criação da demanda e resgate do sujeito do inconsciente. É preciso, deste modo, um percurso clínico para que o toxicômano reconheça, para além do fenômeno que provavelmente o trouxe para o atendimento, o sintoma do qual padece. Trata-se, então, de substituir o “novo sintoma”, a toxicomania, que não está submetida à estrutura de linguagem, pelo sintoma analítico: de situar a diferença entre o excesso decorrente do uso da droga e o que faz sintoma para o sujeito.
[1] MILLER, J.-A. - El partenaire-síntoma. Buenos Aires: Paidós, 2008
*Este texto foi extraido do meu trabalho intitulado "Toxicomania e Semblante", publicado nos anais da XIX Jornadas Clínicas da EBP-RJ e ICP-RJ, em 2009.