terça-feira, 24 de abril de 2012

Há gozo no sintoma?

Em diversos casos clínicos que recebemos no consultório nos dias de hoje podemos comprovar a afirmativa tanto de Freud como de Lacan de que existe gozo no sintoma. Isto quer dizer que os sintomas, como as obsessões, a anorexia, as compulsões, e mesmo as toxicomanias, apesar de causar sofrimento, revelam também alguma parcela de satisfação, e também de gozo: "algo no âmago do sujeito trabalha para seu desaparecimento, sua destruição".

"O gozo é um conceito necessário para compreender como o sujeito tem a ver com seu sintoma, como ele o ama bem mais do que o bem-estar, o prazer, o benefício e mesmo ele próprio, inclusive quando o faz sofrer. É precisamente nisso que o gozo e o prazer se distinguem. O gozo se alia à dor - o sintoma, de sua parte, magoa - e designa a satisfação paradoxal retirada dessa dor. Trata-se de uma satisfação que pode prejudicar o organismo e se tornar autônoma e até conduzir a morte".

Por isso a importância do trabalho analítico com esses sujeitos, para que possam entender a particularidade do gozo que obtém através do seu sintoma e ao que ele remete à neurose infantil, para que a partir daí cada um possa construir um saber-fazer com isso, e com o que resta ao fim de uma análise.

 Philippe Lacadée. O despertar e o exílio. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2011, p. 94 - 95.

domingo, 8 de abril de 2012

Opção Lacaniana Online nº 7


Editorial e sumário

A Associação Mundial de Psicanálise – AMP está prestes a realizar, em Buenos Aires, seu VIII Congresso Internacional sobre “A ordem simbólica no século XXI”. Um subtítulo desafia: “Não é mais o que era. Que consequências para o tratamento?”
Recorro a um aspecto que esse tema suscita, para apresentar este número de Opção Lacaniana online nova série. Há na ordem simbólica atual um excesso de significantes e de variedades subjetivas para usá-los que, paradoxalmente, faz bem e mal. Voamos no virtual, pescamos em rede e sufocamos reféns da web. Alguns significantes são senhas de entrada em comunidades de sentido imperativamente compartilhado, outros se lançam aos muros na tentativa de fazer parte, só em parte. Entre esses dois polos, variedades ao infinito de enlaces nãotodos se oferecem à navegação. É com esse espírito de quase, mas não todo, que reunimos os textos que compõem esse número. O significante ‘opção’ não deixa de ter nisso um papel.
A tradição é publicar um texto de Jacques-Alain Miller. Dessa vez, reproduzimos um da revista impressa que, de tão memorável, de tamanho poder de transmissão, precisa voar mais pelo espaço digital. Trata-se de “Os seis paradigmas do gozo”, cuja leitura ajuda a lidar com as filigranas clínicas e teóricas do campo tão difícil do gozo.
O gozo serve também de senha para enlaçar os demais textos aqui publicados: o gozo do olhar e o corpo tatuado; o gozo na clínica e no laço; nas inibições e nos limites da elaboração clínica; na dimensão aditiva dos sintomas; na aposta no Outro para garantir que ele existe, discutida por Pascal; nos crimes das parcerias violentas; no alcance do que a psicanálise pode diante do seu pior; no que move a maquinaria inconsciente; no excesso feminino da erotomania e da devastação.
Cada um dos textos mencionados traz, na forma própria a cada autor, uma discussão e uma lição psicanalítica sobre o gozo.
Ao leitor, o prazer de suas escolhas.
Heloisa Caldas
Sumário
Os seis paradigmas do gozo
Jacques-Alain Miller
Tatuagem e laço social
Antônio Beneti
A clínica e o laço
Alicia Arenas
A elaboração e os limites da elaboração na clínica de hoje
Lilany Pacheco
A dimensão aditiva do sintoma
Glória Maron
Lacan e a aposta de Pascal
Maria Bernadette Pitteri
Crime ou parceria amorosa violenta: interlocuções entre psicanálise aplicada e direito
Elaine de Souza Cordeiro e Ruth Cohen
O que pode a psicanálise diante do destino para o pior? Considerações sobre a direção de tratamento das toxicomanias no avesso do mestre contemporâneo
Adriana Lipiani, Cláudia Henschel de Lima,José Alberto Ferreira,Julia Reis da Silva Mendonça, Vera Aragon.

Notas sobre a maquinaria inconsciente e a ordem simbólica
Luis Francisco E. Camargo
Estrutura, devastação e erotomania: um estudo preliminar
Jussara Jovita Souza da Rosa