segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Moisés e o Monoteísmo

Em “Moisés e o monoteísmo”, Freud (1939) desenvolve a questão da função do pai em psicanálise ao retomar a situação mítica da horda primeva e verificar que após a organização de uma comunidade de irmãos, que possibilitou a exogamia e o totemismo, tem início o retorno do recalcado. Se inicialmente havia a adoração de vários deuses, ao longo do tempo o politeísmo cedeu lugar ao monoteísmo, em que todo poder foi concedido a um deus único, que a imagem do pai primevo passou a ser tanto adorado como temido: “somente assim foi que a supremacia do pai da horda primeva foi restabelecida e as emoções referentes a ele puderam ser repetidas” (ibidem, p. 147).

Esses modelos garantiram a vida em comunidade através da renúncia à pulsão, de modo que a “renuncia instintual sob a pressão da autoridade substitui e prolonga o pai” (ibidem, p. 134). Entretanto, as forças inibidoras à satisfação individual, que eram operadas por fatores externos, sofreram um processo de internalização que originou uma diferenciação no ego e a construção de uma instância que confrontava o restante do ego num sentido crítico. Desse modo, o supereu é a instância que perpetua as proibições e censuras exercidas antes pelo pai; e ao cumprir esses mandamentos a criança espera a recompensa pelo amor (ibidem, p. 132).

Considerando o processo que leva à renúncia pulsional e ao recalque, compreendemos que através deste a identificação com o pai na primeira infância se prolonga com a internalização das ordens e proibições, por meio do supereu. Por outro lado, os desejos incestuosos ou incompatíveis com o eu são suprimidos. Contudo estes conteúdos que foram recalcados e que, portanto, se tornaram inconscientes, podem voltar a se manifestar, por exemplo, através dos sintomas:

Em algum ponto fraco, ele abre para si outro caminho ao que é conhecido como satisfação substitutiva, que vem a luz como sintoma, sem a aquiescência do ego, mas também sem sua compreensão. Todos os fenômenos da formação de sintomas podem ser justamente descritos como o ‘retorno do reprimido’. Sua característica distintiva, contudo, é a deformação, de grandes conseqüências, a qual o material que retorna foi submetido, quando comparado com o original (ibidem, p. 141).