terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Considerações sobre a Letra e o Significante

Segundo Lacan, em O seminário, livro 20: mais, ainda (1972-73), a Letra é o suporte material do significante. O conceito de Letra  apresentado por Lacan no Seminário 20 não é o mesmo daquele descrito no texto A instância da Letra, em que ele não distinguia o conceito de letra do conceito de significante.

A partir do segundo ensino de Lacan, a letra passa a caracterizar o significante em sua materialidade, e possibilita, deste modo, a escrita, que vêm em suplência a não relação sexual, ou seja, a escrita - dos discursos e das fórmulas da sexuação - são tentativas de dar conta daquilo que não se inscreve, de algo que é da ordem do impossível, o real.

Em Lituraterra, texto de 1971 presente em Outros Escritos, Lacan marca a diferença entre letra e significante ao afirmar que a letra comporta a dimensão do lixo. Para tal utiliza o equívoco com que James Joyce deslizou de a letter para a litter. Lacan utiliza o termo lixo como equivalente ao resto. A letra é, portanto, o que contorna o furo, ou melhor, contorna o resto, que é esse algo do real que não se inscreve simbolicamente “A borda do furo no saber, não é isso que ela (letra) desenha? E como é que a psicanálise, se justamente o que a letra diz por sua boca ‘ao pé da letra’ não lhe conveio desconhecer, como poderia a psicanálise negar que ele existe, esse furo, posto que, para preenchê-lo, ela (letra) recorre a invocar nele o gozo?” (1071, p.18).

Por fim, Lacan se vale do conceito de Letra para formalizar o Discurso, em O seminário, livro 17: avesso da Psicanálise. A concepção de discurso surge, então, como um corte, um discurso sem palavras. O discurso é sem palavras porque são as letras, suporte material do significante, que operam nos discursos, ou seja, a escrita não é do mesmo registro que o significante, do mesmo campo da linguagem, ou da significação.

E a partir de uma estrutura discursiva Lacan localiza ali a relação do sujeito com o saber, com o objeto e com os significantes. Assinala também a existência de quatro discursos: o discurso do mestre, da histérica, da universidade e do analista, que são fundamentais para entendermos qual o lugar do sujeito nesses diferentes discursos e como a partir de uma inversão na relação do sujeito com o objeto surge um quinto discurso, o discurso do capitalista que passa a reger as novas formações sintomáticas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário