terça-feira, 14 de outubro de 2014

"O parceiro amoroso da mulher atual" de Lêda Guimarães, em Opção Lacaniana, n.5

" 'Um homem quando ama é uma mulher', assim proferiu Pierre Naveau durante a jornada do ano 2000 da EBP-MG, apoiado na formulação de Lacan 'amar é dar o que não se tem', o que determina que a posição do amante contenha em si a condição de castrado. Por essa razão, a sustentação de uma posição masculina implica numa desvalorização da vertente do amor e na prevalência da vertente erótica na constituição das parcerias, como um mecanismo defensivo fundamental para sustentar a identificação viril enquanto dotado de falo. Mas isso não quer dizer que os homens não saibam amar, como costumam se queixar as mulheres, pois ainda que mantenham como linha de frente o traço perverso da sua fantasia sexual, acabam escolhendo uma mulher, dentre as demais, como seu objeto de amor privilegiado".

A autora nos mostra ainda as mudanças relacionadas as parcerias amorosas ao longo dos séculos. Se a partir do século XII surge o amor côrtes, em que o homem é um cavalheiro gentil, que exaltava a mulher amada, após o feminismo as promessas de amor eterno declinam, de modo que o casal contemporâneo é marcado pelo par: mulher superpotente e homem desvirilizado.

Um dos efeitos importantes, apontados pela autora, das mulheres obsessivas do contemporâneo, liberais, independentes, uma das saídas dos homens é utilizar estratégias próprias à histeria, fazendo surgir o homem metro-sexual "para fazer laço de parceria com as mulheres, para tentar preservar o amor que aí venha a ser nutrido: ele já se apresenta como castrado, destituído de qualquer potência fálica que lembre de perto alguma sombra daquilo que as feministas definem como machismo. Cultivam, assim, o declínio do viril como modo de fazer apelo ao amor".

Nenhum comentário:

Postar um comentário