segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sobre a direção do tratamento em psicanálise

Freud, desde o início de suas investigações teóricas e clínicas, se preocupou em orientar os profissionais em relação a direção do tratamento dos pacientes. Ao longo de seus textos observamos como pontua a importância de se traçar o diagnóstico diferencial para a orientar a direção de tratamento a partir da escuta das particularidades do sintoma em cada caso.

Em “Sobre o início do tratamento”, Freud (1912, p. 140-154) destaca a sensibilidade de escuta do psicanalista na condução do tratamento. Segundo ele, o “exame preliminar” – que podemos comparar às entrevistas preliminares – permite fazer um diagnóstico diferencial entre neurose e psicose. Contudo, somente após o estabelecimento da transferência os analistas devem começar a interpretar os pacientes e trabalhar no processo de tornar consciente o inconsciente, conforme afirma Freud.

Em outro texto, intitulado “Terapia analítica”, Freud (1916-17, p. 440-51) assinala que a psicanálise se propõe a tratar os estados neuróticos e que sua influência se baseia essencialmente na transferência e não na sugestão direta. Ele acrescenta que enquanto o método hipnótico utiliza a sugestão e procura encobrir e dissimular os conteúdos da vida mental, o método analítico se propõe a expor e eliminar o sintoma, adotando como base a transferência. A função do tratamento é desfazer as resistências internas, ou seja, o conflito entre o eu e a libido. Dessa maneira, se considera que uma análise esteja no fim “quando todas as obscuridades do caso tenham sido elucidadas, as lacunas da memória preenchidas, e descobertas as causas precipitantes das repressões” (ibidem, p. 453). Após reconstituir o conflito de onde surgiram os sintomas e conduzir a um resultado diferente, surge em lugar da “doença verdadeira” a “doença transferencial”, ou seja, a neurose de transferência. De modo que:

Nosso trabalho terapêutico incide em duas fases. Na primeira, toda a libido é retirada dos sintomas e colocada na transferência, sendo aí concentrada; trava-se a luta por esse novo objeto e a libido é liberada dele (...) Mediante o trabalho da interpretação, que transforma o que é inconsciente em consciente, o ego se amplia a custa desse inconsciente; por meio do conhecimento, ele se torna conciliador para com a libido e disposto a conceder-lhe alguma satisfação, e sua recusa às exigências da libido diminui mediante a possibilidade de derivar uma parte da mesma através da sublimação (...) Talvez possamos tornar ainda mais clara a dinâmica do processo de cura, se eu lhes disser que retemos a totalidade da libido que foi retirada do domínio do eu, atraindo uma parte dela sobre nós próprios, mediante a transferência (ibidem, p. 455-56).

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