terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mulheres de hoje: figuras do feminino no discurso analítico




DISPOSIÇÃO PARA O GOZO FEMININO

Crônica publicada no jornal A Tarde, 27/nov, sobre a conferência de Eric Laurent no XIX EBCF 'Mulheres de Hoje', escrita por Francisco Antônio Zorzo, Professor da UFBA:

"Em 23 de novembro, no Encontro do Campo Freudiano, o psicanalista francês Eric Laurent fez um longo discurso para uma grande platéia de cerca de mil pessoas. Sua reflexão traçou um longo raciocín...
io, desenvolvendo um arco a respeito da ampliação do papel social e político da mulher contemporânea. Chegou, no final, à conclusão alentadora que vivemos uma etapa de feminilização do mundo. Nesse processo, que tem sérias consequências, estão implicados fenômenos como as mudanças na formação familiar (p. ex., expansão da família mono-parental), queda do patriarcado no ocidente, depressão, e outros temas correlatos.
Tomando por referência as últimas eleições para presidente nos Estados Unidos, ele começou sua fala avaliando que as mulheres e latinos foram o fiel da balança, marcando uma diferença na votação. Uma faixa das mulheres e dos votantes, que estão imprimindo novos comportamentos, foram contra o voto conservador e elegeram Obama em 2012. Esses eleitores são os que desenvolvem novos estilos de vida e de gozo que merecem ser considerados.


As taxas de pessoas isoladas e separadas aumentou e a faixa etária caiu. Segundo Laurent, enquanto que antes os mais velhos ficavam nessa situação, hoje a faixa etária de celibatários chega à casa dos 35 anos, da fase da libido-cheia, o que significa uma mudança de estilo e de ideais da sociedade.

Na sociedade atual, o indivíduo pensa em “marcar pontos”, mais do que desfrutar a vida.
O orgasmo demandado é o mais direto possível, entre a vagina e o cérebro, tal como o caso de Naomi Wolf, descrito no seu livro sobre o sexo feminino, em que relata sua biografia. Laurent lembrou das cirurgias sexuais e o caso da escritora que operou do nervo na altura da 5ª. Vértebra lombar, supostamente para ter o orgasmo ampliado.
Esses fatos enumerados acima, o que dizem para a psicanálise? Para responder, Laurent recordou que Lacan nos anos 1960 colocou 3 perguntas que tem a ver com a questão: 1) sobre a entropia/agitação dos casamentos de homens homossexuais e lésbicas. 2) sobre o contrato/casamento, ou ainda a irredutibilidade das mulheres ao contrato. 3) proibição do incesto paiXfilha.

Em outra passagem em Salvador, em evento de psicanálise, Laurent já falara do analista, como um ser que discute a experiência das paixões. Seguindo essa maneira de se engajar no tema, ele se posiciona tal como Pascal frente às emoções e diferente de Montaigne, que gostaria de existir sem paixões. O analista é um ser que experimenta as paixões, as tentações, colocando-se o mais próximo possível daquilo que divide o sujeito.
 Aqui, nestas poucas linhas é difícil retomar todos as nuances da conferência. Mas, em resposta às perguntas acima, sobre homossexuais e lésbicas, Laurent foi na linha de Jacques Lacan, que via uma dissimetria entrópica de comportamentos. A psicanálise parece fazer um elogio a um certo tipo de relacionamento que ainda procura regularidade e duração no amor. Um caso que Laurent falou foi o da escritora Marguerite e sua amante, que vivia isolada no frio durante 6 meses por ano, mas que tinha uma vida produtiva com muita calma amorosa.

Laurent lembra o caso da filha de Sigmund Freud, Ana, e seu conhecido caso com Dorothy. Houve o reconhecimento de certas experiências sob o olhar de Freud. Laurent assinala aqui a tese de que a mulher quer manter o outro falando sem fim na relação. Esse é um traço da erotomania da mulher que Freud e Lacan perceberam cada um ao seu modo. Mas, Lacan não deixou de reconhecer que a mulher pagaria um preço por isso, ou seja a depressão e a angústia. A fórmula da dor no amor feminino é ampliada por Lacan para o lado da depressão.
Esses sentimentos depressivos formam um transtorno novo, um novo pacote cultural. Laurent, lembrou que no Japão décadas atrás não havia depressão, mas depois da forte onda de medicalização passou a ser validada. A depressão seria, para a psicanálise, uma forma de desidentificação. Essa desidentificação também ocorre no final da análise, que pode gerar um comportamento do tipo bi-polar. Mas, quanto a isso seria bom ir com bastante calma, pois uma situação de desidentifação muito radical, faz um curto-circuito, que deixa o sujeito tombado.

A questão do contrato/casamento para a mulher de hoje, foi exemplificada através do caso recente do general americano, cuja recente e polêmica biografia indica uma vida com várias mulheres. Tirando a esposa, as outras mulheres aceitavam estar fora do contrato, assumindo a subversão das convenções, sem maiores problemas, desde que mantida a sedução em jogo. As mulheres do general se colocam fora do contrato, seriam para Laurent, como que “free-lancers”, mantendo a situação sem maiores embaraços, desde que se perpetuasse o laço sexual e a libido e se mantivesse o outro falando.

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