terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ainda sobre a ciência e a psicanálise


Da última vez no blog escrevi sobre como a psicanálise reescreve o cogito cartesiano “Penso, logo existo” ou “Penso, logo sou” para o “Sou onde não penso”, “Penso onde não sou”. É uma forma de afirmar o inconsciente e contrapô-lo a consciência.
 
O Inconsciente é o que revela o sujeito como dividido, como nos elucidou Freud, através dos chistes, atos falhos, sonhos. Por isso a psicanálise prima pelo método da atenção flutuante, pois o analista deve estar atento para os equívocos do paciente, onde ele vacila e emerge as formações do inconsciente, ali onde ele fala uma palavra querendo dizer outra, ou um não, que significa um sim. Lembro que fui atender um paciente na semana passada na emergência de um hospital, ele estava há 8 noites sem dormir, e me disse que não era por causa da ansiedade pré-cirurgia. É assim: no inconsciente um não pode significar um sim, não há uma ordem no inconsciente. Ele é atemporal, fora de ordem e se revela por meio da consciência de forma velada, afinal não íamos suportar tudo que o inconsciente tem a nós dizer.

A fantasia que temos, ou melhor, que construímos, são, assim, modos que esse sujeito dividido, sujeito do inconsciente, tem para lidar o mundo. A fantasia nos permite existir no mundo! Sem ela só há o real, e também não estamos preparados para lidar com ele! Só com análise, muita análise! A fantasia tem sempre relação com o objeto. O objeto em suas cinco formas, como nos disse Lacan no Seminário 10, oral, anal, falo, olhar e voz. Para que se caminhe, em análise, para o atravessamento da fantasia é preciso que se inicie pelo sintoma, ou seja, daquilo que o sujeito se queixa, muitas vezes o que aparece no corpo ou fala por ele, por exemplo dores de cabeças intermináveis, alergias intratáveis, prisões de ventre, mal-estar, insônia etc. A lista é interminável, mas os resultados se parecem: quando acaba o sintoma vem a angústia. Angústia porque o sujeito vai se aproximando mais de sua divisão, de sua relação com o objeto.
 
Para cada caso, então, um tratamento singular, orientado pela psicanálise, orientado pela estrutura clínica! Principalmente para quem está inciando, é preciso ter cautela, não pensar que já sabe do diagnóstico de antemão. As entrevistas preliminares servem para isso, orientar o diagnóstico e o tratamento, por isso a importância dos estudos e supervisões! A psicanálise é teórico-clínica e nos exige isso, a cada passo uma parcela a mais de investimento.

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